Há 16 anos o Brasil não concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A última vez que o país entrou na disputa foi em 1999, com "Central do Brasil", de Walter Salles. Na ocasião, Fernanda Montenegro, protagonista do longa, também concorreu ao prêmio de Melhor Atriz, mas inacreditavelmente perdeu para Gwyneth Paltrow.
Em conversa com Purepeople, a artista avalia essa longa ausência do país na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Este ano, "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", de Daniel Ribeiro, não ficou entre os cinco finalistas, enquanto a Argentina - que possui duas estatuetas - emplacou "Relatos Selvagens".
"Falta no cinema brasileiro fazer o que o argentino faz, que é contar a história das pessoas que vão ao cinema. Não é que não se deva fazer filmes a respeito dos sem-terra, sem-teto, sem-pão, sem-roupa. Entende? Não é isso, também tem que contar essas histórias. Mas essa temática precisa dar chance para falar da burguesia, dos homens que comandam o país, da classe dominante", opina Fernanda.
"Não se fala da classe média, da alta burguesia e nem da média burguesia. Não se fala dos poderosos de Brasília... Aí vamos ver filmes argentinos porque mal ou bem nos vemos um pouco lá", conclui a artista, que, em 2013, venceu o Emmy Internacional de melhor atriz pelo especial de fim de ano "Doce de Mãe", da TV Globo. Relembre a ida de Fernanda ao Oscar:
'Não tem protagonismo em cima de velho'
Aos 85 anos e formando um casal lésbico com Nathalia Timberg na novela "Babilônia", que se beijou já no primeiro capítulo, Fernanda não reclama de fazer coadjuvantes, mesmo com a chancela de ter sido a única brasileira a concorrer ao Oscar de Melhor Atriz em toda a história. "Não tem protagonismo em cima de velho. O negócio vai até 45, 50 anos. Mas os coadjuvantes são excelentes papéis. São eles que tocam a novela", diz, de forma generosa.
"Os autores que têm me convidado para novelas são amigos de muitos anos. Sei que eles não vão me deixar no corredor esperando para gravar. Ou me convocar para nada. Não lembro de terem me chamado para uma novela e que eu não tenha tido um bom papel. Não precisa ser protagonista", completa ela, que já havia interpretado uma homossexual na peça "As lágrimas amargas de Petra von Kant" (1982), do escritor alemão Rainer Werner Fassbinder, que lhe rendeu os prêmios Molière e Mambembe.
'Não sou jovem, não tenho falsas ambições'
Enquanto alguns reclamam da idade, Fernanda festeja cada ruga conquistada com o passar dos anos. 'Não sou jovem, não tenho falsas ambições. O bom na velhice é que sai uma parte da tal ansiedade que a mocidade dá. Quando somos jovens, há uma ansiedade muito grande. Não sei se são os hormônios... Isso diminui. Você já não se levanta dando pulo, você se levanta e caminha", diz, pacientemente.
Com mais de 70 peças de teatro no currículo, a atriz avalia não faltar nenhum tipo para interpretar. "O que vier agora é presente dos deuses", pontua Fernanda, que recentemente elogiou Alexandre Nero por sua atuação em "Império", como o Comendador José Alfredo. E entre as novas atrizes, algum destaque? "Você acha que vou citar uma pessoa? Seria deselegante. E outra, jovem atriz para mim é de uma geração de 50 anos pra baixo", diverte-se.
(Por Anderson Dezan)