Quem nunca se sentiu mal com o próprio corpo? Os padrões estéticos reforçados pelo elogio constante aos corpos magros idealizam uma beleza que muitas vezes se torna irreal, além de exercerem uma pressão psicológica que pode acarretar em um distúrbio alimentar. "Eles ficam muito vigente de todas as formas: na mídia, na televisão, na internet, nas redes sociais, nas propagandas... Em um catálogo de roupas de uma loja, por exemplo, já é uma mulher extremamente magra", aponta a psicóloga clínica Vanessa Tomasini e, em entrevista ao Purepeople, ela ensina como enxergar o que há de bonito além da beleza física.
Segundo a profissional, somos educados a enxergar a magreza com um ar de admiração e desejo ainda na infância. "Muitas vezes, quando uma criança não é tão magra, tem um pouco mais de sobrepeso, não se olha para entender se essa criança está sabendo ouvir o corpo dela", comenta Tomasini, ao se perguntar: "Ela está conseguindo identificar fome e saciedade? Ela tem estado angustiada e talvez está comendo mais para poder diminuir a ansiedade e a angústia dela? Não, a gente simplesmente já fala de restrição." Para conquistar o corpo idealizado, a relação com a comida é modificada e pode acabar camuflando um sério distúrbio alimentar. "Não pode comer isso e nem isso, porque não vai ter esse corpo magro tão almejado por todo mundo", alerta a profissional: "Somos rodeados por esses estímulos de que esses são os corpos que são certos, bons, bonitos, e isso desde a infância. E muitas vezes nós mesmos atrapalhamos isso consumindo um tratamento estético para conseguir ficar tão magra quanto fulana."
Os padrões estabelecem o que é bonito, mas, por só levarem em consideração as características físicas, são questionados por Vanessa: "Como é que a gente evidencia essa beleza? O que é essa beleza? Hoje em dia virou um padrão a beleza ser vista como magreza. Peraí, cadê o resto? Quem disse que beleza está fundamentada nisso?" Todo esse ideal é incentivado por um motivo: "A gente não pode esquecer que essa indústria do corpo e do emagrecimento movimenta bilhões de dólares ao ano, então tudo isso vai influenciando e chega um momento em que as pessoas perdem a noção de quais são esses corpos reais."
Idealizadora do projeto #VcTemFomedeQue?, a especialista procura entender a relação das pessoas com a comida e com o corpo, trabalhando para que elas enxerguem o que há de bonito. "A primeira coisa é entender qual é a história dessa pessoa, como é o olhar dessa paciente sobre ela, sobre a beleza dela, sobre o corpo dela, sobre o que é adequado e inadequado – o que é extremamente individual da história de cada pessoa – e a partir daí a gente vai trabalhando essas questões de que o diferente não é inadequado, buscando observar melhor as mídias sociais para não ser bombardeada o tempo inteiro sobre um corpo, um emagrecimento, um tratamento estético... Tirar isso e entender que existe uma beleza que não está fixada só no corpo." Com o compromisso de mostrar que a aparência física não nos define, a psicóloga clínica reforça: "Existe uma beleza que está na forma do sorriso e na forma de encarar o mundo."
(Apuração por Vanessa Nogueira e texto por Fernanda Casagrande)