A promessa de que o Comendador (Alexandre Nero) terminaria o último capítulo da novela "Império" vivo foi curiosamente cumprida por Aguinaldo Silva, no longo desfecho exibido nesta sexta-feira (13). Entrando no clima macabro desta data, José Alfredo apareceu - em espírito se formos pensar na coerência, ou vivo para os adeptos do realismo fantástico - no último instante da cena final da novela das nove. Assim como Elvis, o "homem de preto" entra para o hall dos ídolos que nunca morrem, mesmo depois de ter sido assassinado pelo filho, ser cremado e ter as cinzas jogadas no Monte Roraima.
Embora o autor tenha garantido que havia um esquema antivazamento, que os outros finais possíveis para sua história estavam guardados em um cofre e só seria escolhido poucas horas antes da exibição do capítulo, a única cena qua ainda não tinha sido divulgada era a derradeira, em que o Comendador aparece na janela, atrás da tradicional foto da família Medeiros, depois de morto.
Extenso, o capítulo final durou em torno de duas horas, foi permeado de flashbacks e subdividido em muitos blocos. Do início até o momento do confronto entre José Alfredo e Fabrício Melgaço a trama ficou em suspenso e causou expectativa em demasia, protelando o momento mais esperado: a morte do protagonista.
Conforme o Purepeople apontou ainda em fevereiro, a suspeita de que Zé Pedro era o misterioso inimigo do comendador, que depois foi confirmada e contestada, se tornou realidade e não mudou. No fim, Fabrício Melgaço era mesmo o primogênito e filho preferido de Maria Marta (Lilia Cabral) e Cora (Drica Moraes /Marjorie Estiano) não voltou para se revelar a grande vilã. Mas essa possibilidade deu o que falar.
Tal como era a torcida de Alexandre Nero (o verdadeiro heroi), José Alfredo morreu. E ratificando o machismo típico e incrustado de sua personalidade, o personagem "nomeou" João Lucas (Daniel Rocha) como seu sucessor à frente da empresa. Mesmo sendo Cristina (Leandra Leal) sua filha mais velha, formada em administração e com experiência no comando dos negócios da família. E mesmo Maria Clara (Andreia Horta) sendo a designer principal/oficial da marca e tendo trabalhado diretamente com o pai durante muitos anos. Ainda assim, por não serem homens, as duas não puderam herdar o trono do pai, que ficou para o antigo rebelde sem causa e agora pai de gêmeos.
Ainda sobre a cena da morte, um acerto deste capítulo final precisa ser lembrado: a escolha da canção "Preciso me Encontrar", de Candeia, para embalar a partida de Zé Alfredo. A música deu o tom exato que o momento pedia, e embalou a emoção do telespectador, diferentemente da trilha incidental do confronto e da cerimônia das cinzas no Monte Roraima, que atrapalharam em vez de ajudar na condução da ação.
O premiado novelão prometido por Aguinaldo Silva alcançou o feito das tramas de sucesso do horário nobre, como outras do autor: ficou por meses na boca do povo, seu carismático e emblemático protagonista caiu nas graças do o público, virando mania nacional e os números da audiência foram altos. Além disso, revelou talentos como o de Dani Barros com sua malandra Lorraine, um dos personagens mais bem construídos e aproveitados na história. Roberto Birindelli também merece menção por seu Josué, fiel e coerente do início ao fim.
É preciso reverenciar o trabalho de Caio Blat, pois ele segurou um vilão que caiu em seu colo na reta final da trama, já que Cora perdeu a função com a substuição de Drica Moraes e morreu na pele da brilhante Marjorie Estiano. A contracena de Caio e Alexandre Nero - impecável e instigante em todas as cenas, até quando imitou o Tio Patinhas - no embate final foram o ponto alto do capítulo, além é claro da surpresinha, que foi o fantasma do Comendador.
(Por Samyta Nunes)