A busca por diferentes tipos de cirurgia de redesignação sexual é uma realidade para muitas mulheres e homens que se identificam como transgêneros, pessoas que têm uma identidade de gênero diferente daquela que foi atribuída à nascença.
No Brasil, não existem dados que atestem a procura pela mudança de sexo dos órgãos genitais ou remoção das mamas, mas nos EUA, o número aumenta 20% a cada ano. As cirurgias de redesignação sexual foram autorizadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) nos hospitais universitários desde 1997.
Para a cirurgia ser feita no SUS, o tempo de espera médio é de 8 anos. "Existem pacientes que têm os caracteres sexuais masculinos desenvolvidos, mas que se identificam como mulheres ou vice-versa. Depende de cada caso e é muito importante que o paciente seja bem compreendido", aponta a cirurgiã Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
A especialista ressalta que cada caso precisa ser individualizado e a seleção para a realização dos diferentes tipos de cirurgia de redesignação sexual, sempre em maiores de 21 anos de idade, envolve uma equipe multidisciplinar, com acompanhamento mínimo de dois anos. A equipe deve ser composta de endocrinologista, psicólogo, psiquiatra, assistente social e cirurgião, segundo o Conselho Federal de Medicina.
A neocolpovulvoplastia está relacionada com a região das gônadas para mulheres trans, pessoas que foram designadas ao gênero masculino ao nascer, mas que descobriram que se identificam como mulheres ao longo da vida. É indicado que a pessoa tenha acompanhamento com ginecologista, para orientações e avaliações da pele da neovagina e uretra. Como a próstata permanece, também pode ser necessária a realização de consultas com o urologista.
A metoidioplastia e a neofaloplastia são as duas técnicas mais procuradas por homens trans, aqueles que foram designados ao gênero feminino no nascimento, mas se identificam como homens em determinado período da vida. Na primeira, a pele circundante do clitóris é removida e liberada do púbis para dar uma aparência de maior comprimento. Já na segunda, são utilizados enxertos de pele, músculos, vasos sanguíneos e nervos de outro local do corpo, como do antebraço ou coxa, para a criação do novo órgão genital com maior tamanho e volume.
A mamoplastia é a plástica mamária indicada para mudar a forma, o tamanho e a posição dos seios. "A mamoplastia redutora, por exemplo, confere excelentes benefícios para homens transgêneros, pois tem como objetivo a retirada das glândulas mamárias, gordura e pele em excesso da região para que as mamas fiquem correspondentes ao gênero com o qual o paciente se identifica", explica a médica.
Já a mamoplastia de aumento é uma opção excelente para mulheres transexuais que desejam seios maiores do que aqueles conquistados apenas por meio do uso de hormônios. "A mamoplastia de aumento consiste no implante de uma prótese de silicone, por cima ou por baixo do músculo peitoral, para conferir volume às mamas, sendo que o tamanho da prótese pode variar de acordo com o caso e deve ser escolhido em uma conversa entre o cirurgião e a paciente, levando em consideração fatores como o corpo, o tamanho do tórax e a estatura", destaca a cirurgiã.
As cirurgias estéticas faciais também são muito recomendadas para pacientes de ambos os gêneros que desejam uma melhor harmonia do rosto. Por exemplo, homens transgêneros que desejam conquistar uma mandíbula mais forte e um contorno facial mais destacado podem optar pela mentoplastia.
"Nesses casos, o tratamento pode ser feito através de próteses de queixo e mandíbula ou com preenchimentos de hidroxiapatita de cálcio ou ácido hialurônico, que são absorvíveis", afirma a Dra. Beatriz Lassance. No campo das cirurgias faciais, a rinoplastia também se destaca, principalmente entre mulheres transexuais que desejam afinar o nariz e torná-lo mais delicado.
As cirurgias de remodelação do corpo também podem trazer grandes benefícios para pacientes transgêneros. Mulheres transexuais que desejam um corpo mais harmônico, por exemplo, podem optar pela lipoescultura. "Nesse procedimento, a gordura, após ser lipoaspirada por meio de uma cânula, é enxertada novamente no corpo para dar volume em outra área, como nos glúteos, sendo que parte dessa gordura é absorvida pelo organismo após certo tempo", completa a Dra Beatriz.
A importância da discussão sobre a falta de acesso de pessoas transexuais aos procedimentos estéticos e de redesignação sexual também se relaciona com bem-estar e saúde mental.
"A negação das cirurgias plásticas e de redesignação sexual para pessoas transgêneros também aumenta a probabilidade de pessoas trans buscarem tratamentos alternativos extremamente prejudiciais, incluindo o uso não supervisionado de medicamentos hormonais e a realização cirurgias plásticas e procedimentos estéticos de alto risco, como a implantação de próteses de silicone de baixa qualidade por profissionais não especializados", alerta.
A especialista ressalta que o debate sobre o tema não deve estar limitado à comunidade trans ou LGBQIA+. "É visível, então, como as cirurgias de redesignação não são apenas uma questão de opção para pessoas transgêneros, mas sim uma questão de saúde pública que ainda precisa de muita atenção", finaliza.
E vale ressaltar que a necessidade pela busca de cirurgia (ou não) cabe somente à pessoa trans. Por isso, muitas vezes pode ser incômodo para ela ou ele responder, por curiosidade alheia, já realizou ou não. Tais procedimentos não devem ser enxergados como forma de validar a transexualidade e sim como uma possibilidade de ela ou ele se reconhecerem de modo mais pleno.