"Será que acabou? Será que vou voltar a andar?". Esse era o único pensamento que Anderson Silva tinha no dia 28 de dezembro, a caminho do hospital, depois de machucar a perna esquerda na luta contra Chris Weidman. O ex-campeão do UFC recebeu Renata Ceribelli em sua casa em Los Angeles, na Califórnia, nos Estados Unidos, onde vive com a família há 6 anos. A primeira entrevista com o lutador desde a lesão sofrida no octógono marca a estreia da jornalista como correspondente internacional do "Fantástico".
"Me passa um filme de tudo que aconteceu até a hora do acidente. A todo momento eu estou tentando entender. Por que eu tinha que quebrar a minha perna. Por que eu tinha que estar passando por essa situação? Eu estou tentando entender qual é a mensagem que Deus está tentando me dar nesse momento", declarou o atleta.
Sua grande luta agora é contra a dor. Anderson evita tomar remédios fortes para combatê-la por medo de ficar dependente deles.
"Desde que eu vim de Las Vegas, que eu saí do hospital, eu não consigo dormir uma noite inteira. É muito difícil. Dói muito, dói muito. É uma dor que eu não desejo para ninguém".
Para cuidar do lado emocional, ele conta com o apoio da mulher, Daiane, e dos cinco filhos - Kaoli, Kawana, João, Kalil e Gabriel. "Eles estão me dando a força que eu preciso para me recuperar".
Anderson admite que já viu e reviu várias vezes a luta. Ao lado de Renata Ceribelli assiste mais uma vez e analisa o ocorrido:
"Eu consegui ver alguns detalhes e erros técnicos que eu cometi ali na luta. Para que eu pudesse dar o chute perfeito nesse exato momento, eu tinha que ter desviado a atenção dele com um soco no rosto. Assim eu desviaria totalmente a atenção dele do movimento do chute. O que dá para perceber é que ele está protegendo o chute da linha da cintura para cima. E ele levantou a perna dele instintivamente. Ele se desequilibrou. O chute foi forte ao ponto de ele se desequilibrar".
Mesmo abalado, o lutador provocou Chris Weidman. Renata perguntou se ele considera que o americano o venceu. "Não. Eu acho que foi uma fatalidade que aconteceu. A regra é clara. Eu tenho plena certeza que eu teria vencido (se não tivesse acontecido a fratura)".
A pergunta que os brasileiros estavam ansiosos para saber a resposta ainda não tem uma definição. Veremos uma nova luta entre Anderson Silva e Chris Weidman?
"Se o UFC achar que deve me dar uma nova oportunidade de lutar com ele, se eu me credenciar de novo para lutar com ele. Eu quero poder fazer o que eu faço bem. Independente de ser com o cinturão ou não. Independente de ser com o campeão ou não, eu quero poder voltar a fazer o que eu faço bem, que é lutar. Eu tenho medo de não poder colocar carga na minha perna de novo. Eu faço 39 agora em abril, mas esse é um medo que está ali correndo comigo no dia a dia na minha recuperação. Mas eu estou confiante que eu vou conseguir, que eu vou voltar".
Para o atleta, o momento mais difícil que viveu desde que se machucou no octógono até agora foi ter voltado para casa machucado. "Eu nunca tinha antes vindo pra minha casa machucado. Nem um corte, nada. Foi a coisa mais triste chegar em casa e olhar para minha esposa, ver meus filhos e estar machucado. Isso me entristeceu muito e mexeu muito comigo. Foi o pior momento da minha carreira até agora. Da minha vida e da minha carreira".
A previsão de recuperação do lutador é de seis a nove meses. Anderson implantou uma haste metálica no osso fraturado e ainda não começou a fisioterapia. "Eu não consigo levantar, movimentar o calcanhar e tal, como eu movimento esse aqui. Eu acabei perdendo força, vou perdendo a musculatura da perna. Até tudo isso melhorar, até ficar 100%, pode ser que o médico diga: 'Você pode voltar, está bom para voltar às atividades normais e você pode lutar. Mas pode ser que o médico diga que não. Eu tenho que me preparar para isso também. Eu estou confiante que vai dar tudo certo, que eu vou ficar bom e que eu vou voltar a lutar logo".