Um dos autores da novela "Babilônia", Ricardo Linhares negou que o folhetim tenha passado por várias alterações na sinopse. "A única mudança foi na história de Alice (Sophie Charlotte) e Murilo (Bruno Gagliasso). Ela deixou de ser garota de programa agenciada pelo cafetão porque a classificação indicativa não permite explorar a prostituição às 21h, apenas às 23h", contou em entrevista à colunista Regina Rito, do jornal "O Dia", nesta quinta-feira (20).
"Na história de Beatriz (Gloria Pires) e Inês (Adriana Esteves), enxugamos a fase em que seriam cúmplices, apressando o momento de elas se tornarem inimigas declaradas", acrescentou o autor, que comentou ainda as cenas de beijo entre personagens do mesmo sexo, como foi com Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg). "Falar de beijo gay é tolice. Não tem nenhuma importância para a trama. Nos grupos de discussão, o casal Estela e Teresa foi totalmente aceito pelas espectadoras, assim como Ivan (Marcello Melo Jr.) e Sérgio (Claudio Lins). Nada foi mexido na trajetória deles", disse citando o professor de slackline que iria se envolver inicialmente com Carlos Alberto (Marcos Pasquim) e a advogada que parou de trocar beijos com a dona do antiquário.
Tais cenas acabaram sendo alvo de uma campanha contra a novela das nove, mas o fato foi minimizado pelo autor. "Não considero que os evangélicos tenham feito boicote. Houve pequena rejeição conservadora, independentemente de religião. Vivemos numa democracia e as pessoas têm todo o direito de manifestar sua opinião", afirmou Ricardo.
Autor admite derrota para novela das sete
Ricardo falou ainda dos problemas de audiência enfrentados pela trama, que culminaram no seu encurtamento em três semanas, mas recordou que o folhetim manteve-se à frente no Ibope. "'Babilônia' é o programa mais assistido atualmente na TV brasileira. Perdemos apenas algumas vezes para 'I love Paraisópolis', na estreia da novela das sete. Depois, consolidamos a audiência sempre em ascensão e nunca mais perdemos a liderança", explicou.
"Os números refletem a nova realidade da TV aberta. Hoje em dia, o sucesso de um programa não pode ser avaliado apenas pela audiência no momento da exibição. Assisto a todos os programas gravados e a maior parte das pessoas que conheço, também. Sem falar nas novas plataformas, como a internet. 'Babilônia' sempre teve espetacular repercussão nas redes sociais", acrescentou.
E minimizou a eliminação de capítulos. "Quem manda na novela é o público. Como se trata de uma obra aberta, a novela é escrita à medida que sentimos o rendimento das tramas. Isso acontece com todos os folhetins. A novela estava prevista para ter 161 capítulos. Terá 143. Foi encurtada em três semanas. Isso não faz a menor diferença", disse.
Novela é definida por Ricardo como 'forte e adulta'
No bate-papo, o autor classificou a novela como uma história de "temática forte, adulta" e que "abordou assuntos importantes da atualidade, como corrupção, racismo, preconceito social, homossexualidade e aceitação das diferenças". "Mostramos gays e favelados sem caricatura. A novela foi exibida num momento de crise política e econômica, em que parte do público preferia uma atração mais escapista, para fugir dos problemas do dia a dia. Esta parcela foi pequena", completou.
"O público sempre foi conservador. Nem por isso os programas de TV devem deixar de ousar na temática, abordando assuntos pertinentes e propondo a discussão. O contrário de ousadia é acomodação, que é uma coisa horrível. 'Babilônia' foi uma novela ousada e anticonvencional, que deixou uma marca", finalizou.
(Por Guilherme Guidorizzi)