"Falso Brilhante", novela que ficará no lugar de "Em Família", vai contar com um núcleo que promete causar polêmica. José Mayer viverá Cláudio Bolgari, um cerimonialista casado e pai de dois filhos que irá manter um romance extraconjugal com Leonardo (Klebber Toledo), um aspirante ator em busca da fama. Influente na sociedade carioca, o personagem não "sairá do armário" por medo da reação dos amigos.
Embora polêmico, o núcleo também terá seu lado conservador. Em entrevista ao Purepeople, o autor Aguinaldo Silva conta que não planeja escrever uma cena de beijo gay entre Mayer e Toledo, a exemplo do que aconteceu com Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) em "Amor à Vida".
"Não penso em fazer beijo gay na televisão. Já tivemos beijos gays e agora é a época de voltarmos aos beijos héteros (risos). É o que interessa realmente à maioria dos telespectadores", diz, com sinceridade, o novelista, homossexual assumido.
Mesmo não pensando em cena de beijo gay, Aguinaldo defende a existência de personagens com essa orientação sexual em novelas. A presença de papeis homossexuais em folhetins tornou-se constante nos últimos anos e, segundo o autor, isso tem uma explicação simples.
"Os gays representam em média 10% da população e, geralmente, possuem grande poder de compra porque não têm filhos e preocupações em deixar heranças. Como a novela também é feita para atrair anunciantes e, para eles, é interessante atender cada vez mais essa faixa de consumo, é sempre bom ter um personagem homossexual na história. Gays gastam pra caramba e todo mundo quer anunciar para eles".
Tradicional
Polêmicas à parte, segundo Aguinaldo, o público pode esperar um "novelão" de "Falso Brilhante". "Acho que isso está fazendo falta na TV. Quero fazer uma novela com uma história que o telespectador vai acompanhar. A cada dia, ela vai crescendo. Isso é o que chamo de novelão. Era assim antigamente", avalia.
Para ele, as novelas atuais perderam sua essência. "Hoje, temos a novela do sufoco. São aquelas que a cada dia acontece uma situação extrema e, no dia seguinte, tudo volta à estaca zero. Ou, então, temos a novela temática: aquela que dá mais valor ao tema do que à trama em si", opina.
O perfil cada vez mais comum em novelas de não ter personagens bem definidos como vilões ou mocinhos também é criticado por Aguinaldo.
"Esses arquétipos ficam muito claros na cabeça do telespectador desde o primeiro capítulo. Ele vai torcer por quem? Hoje em dia, as novelas perderam um pouco isso. A linguagem do folhetim não pode mudar porque, se mudar, não é mais folhetim. E, se não é mais folhetim, não é mais novela", pontua o autor, criticando ainda a cobrança excessiva do público por realidade em novelas.
"Ficção é ficção. Quem quer ver realidade, assiste ao 'Globo Repórter' e não novela. Isso me incomoda, mas é um fato consumado. Não adianta eu querer brigar com isso", lamenta.
(Por Anderson Dezan)