O maior símbolo do amor foi a grande estrela do último capítulo de "Amor à Vida": um beijo. Polêmico, esperado, implorado pelo público e comemorado por grande parte dos telespectadores nas redes sociais, o tão adiado primeiro beijo gay da Globo finalmente aconteceu e fez história na teledramaturgia. Mas, para além de toda essa questão, na última cena, Walcyr Carrasco e toda sua equipe e elenco mostraram algo ainda maior: a vitória do amor sobre a homofobia.
Um novelão com 221 capítulos exibidos durante oito meses não poderia terminar num anticlímax. Foram muitos barracos, segredos revelados do início ao fim, fortes emoções, casamentos incontáveis e a emocionante trajetória do vilão que se tornou herói. Nesta sexta-feira, 31 de janeiro de 2014, um grande passo foi dado rumo à evolução de um país. Um único beijo fez a diferença com a proporção que toma a partir do momento que vai ao ar no horário nobre. A redenção de Félix (Mateus Solano) foi a porta que se abriu para que César (Antonio Fagundes) conseguisse vencer o seu preconceito.
Em "Amor à Vida", a "cura" do verdadeiro vilão aconteceu através do amor, e não do ódio. De nada adiantou a vingança de Aline (Vanessa Giácomo), que teve a merecida morte, eletrocutada nas grades da prisão. Mesmo depois de tanto sofrimento, César ainda continuava com as mesmas convicções que tinha no início da trama.
Só com o carinho e os cuidados diários do filho que tanto o médico rejeitou, o patriarca da família Khoury teve o coração amolecido e enxergou que o amor prevalece independentemente da orientação sexual do ser que ele gerou. É possível que muita gente tenha se incomodado com as cenas finais, contudo é mais provável que nem tão cedo um final de novela venha agradar a tantas pessoas. Sinal de que os tempos estão mudando!
Em torno disso, o capítulo inteiro foi muito bem escrito e gravado. Mauro Mendonça Filho mostrou uma direção inspirada e brindou o público com cenas lindas e comoventes, como a de Linda (Bruna Linzmeyer) e Rafael (Rainer Cadete) se declarando entre os quadros redondos de uma beleza singular; o anúncio da gravidez de Paloma (Paolla Oliveira), no altar, rodeados de casais apaixonados, cada um trocando olhares cúmplices entre si; Edith (Bárbara Paz) e Vagner (Felipe Titto) correndo livres e felizes pelas ruas de São Paulo; a relação incomum e cheia de amor formada pelo quarteto Patrícia (Maria Casadevall), Michel (Caio Castro), Guto (Márcio Garcia) e Silvia (Carol Castro), outro retrato da família moderna... Foram muitos "felizes para sempre" que encheram de lágrimas os olhos dos telespectadores.
Dá gosto de ver uma telenovela, tantas vezes criticada por ser um segmento de futilidade e de manipulação, usar sua força para mostrar o amor sem preconceito. Ao terminar, "Amor à Vida" abre com chave de ouro a primeira página de uma nova história que será escrita pelas experientes e sábias mãos de Manoel Carlos. Que venha "Em Família" com Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) mostrar que o sentimento transcende qualquer preconceito.
(Por Samyta Nunes)