Para quem é ouvinte do feminejo, movimento que tomou conta do Brasil na década passada, Day e Lara já podem ser chamadas de ícones. Mas elas almejam voos maiores. As artistas se preparam para furar as bolhas do segmento com "Premonição", single em parceria com Gustavo Mioto que fala de sexo de um jeito ainda inédito neste mercado. "Sensual sem vulgar" e "sertanejo sem sofrência": é assim que as intérpretes definem a música em conversa exclusiva com o Purepeople.
"Premonição" fala sobre uma mulher que divide com o pretendente detalhes de um sonho sexual que teve com ele. Com uma proposta mais pop, a faixa traz uma sonoridade que parece uma versão abrasileirada de uma música que The Weeknd brigaria para gravar.
"O sertanejo é um ritmo que abraça os outros, que nos dá essa liberdade de poder fazer essas conexões com outros estilos musicais, e o pop é um deles. 'Premonição' é fora da bolha desde o papo, a produção musical e o clipe. Tanto a gente quanto o Gustavo gostamos de inovar, de sair do mais do mesmo, de fazer diferente pra fazer diferença", explica Lara.
A cantora enxerga em "Premonição" uma oportunidade de abrir portas para que mulheres do sertanejo também cantem sobre sexo. "Nós temos nas mãos, ou melhor, nas vozes, a oportunidade de usar a música como um lugar de fala pra assuntos pouco explorados no sertanejo feminino e um deles é essa tríade ['empoderamento, sensualidade e sexualidade']. Sempre cantamos de amores que deram certo, outros que deram errado, traição e bebida. Por que não falar de desejos e vontades?", questiona Lara.
Day ainda entrega que as duas já viveram um enredo parecido com o cantado no single. "Quem nunca, né? Com certeza já vivemos! Em algumas situações ficou só no sonho, em outras demos sorte de ser premonição (risos). Mas o mais legal é isso, é sonhar um relacionamento, é se permitir, como a pessoa da história, em não hesitar de contar pra outra as suas vontades e o que você gostaria que acontecesse entre vocês", refletiu.
Day nasceu em Goiânia, já Lara é de Patos de Minas, em Minas Gerais, e se mudou para a capital do sertanejo em busca de uma oportunidade. Oportunidade esta que a primeira poderia ter tido se utilizasse seu sobrenome famoso para pular etapas: ela é sobrinha de Zezé Di Camargo e Luciano e filha de Camargo, da dupla Cleiton e Camargo. No entanto, a cantora preferiu vencer pelos próprios méritos.
Questionada se teria recebido conselhos dos tios famosos, Day afirma que a biografia deles já é fonte de inspiração. "Além da própria história ser um compilado de conselhos, o exemplo de garra e determinação acaba sendo o maior conselho. Cada um fazer a sua história, plantar a sua semente, pra não ter que descansar na sombra da árvore de ninguém", pondera.
Lara começou a ser conhecida no segmento quando fazia dupla com o irmão, Victor. Os dois subiam ao palco com uma proposta ousada e sem precedentes no mainstream sertanejo: ela fazia a segunda voz, enquanto ele assumia os vocais principais.
"A indústria elogiava, mas não 'comprava'. Acredito que pelo fato de que não existia naquela época, assim como ainda não existe hoje, um movimento de duplas nessa configuração", relembra Lara.
Os caminhos das duas se cruzam em 2015. Day e Lara se conheceram através de amigos em comum do meio sertanejo e, logo, perceberam a química para compor. Juntas, "canetaram" hits famosos nas vozes de Gusttavo Lima, Simone e Simaria e Yasmin Santos. Ao todo, elas acumulam mais de 500 canções em parceria.
Não demorou muito para elas se tornarem uma dupla. Em 2016, Day e Lara foram descobertas por um empresário e, em meio à ascensão meteórica do feminejo no Brasil, despontaram como promessas do movimento.
Em meio às dificuldades históricas para as mulheres em uma indústria que, mesmo mais aberta, ainda é machista e conservadora, Day cita a importância de valorizar artistas pioneiras, como Irmãos Galvão e Inezita Barroso, para garantir mais força ao movimento do feminejo. "Somos poucas em evidência, mas somos muitas sonhadoras. Por essas a gente permanece, por elas também damos a nossa voz", bradou.
Hoje, Day e Lara são conhecidas como "As Braba" e transformaram este apelido em um grito de guerra que intitulou um dos DVDs da dupla, "Respeita As Braba". Mas, afinal, o que ser "Braba"?. "É o resumo de tudo que tivemos que passar e ainda passamos pra ser quem somos e ter o que temos. Importante ressaltar que 'braba' é diferente de brava, não queremos gritar pra ter voz, queremos apenas ser o que somos, ser 'braba', ser nós", concluiu Day.