Zezé Motta aproveitou o Dia da Consciência Negra, comemorado nesta sexta-feira (20), para fazer um desabafo em sua conta de Instagram. A atriz aparece em foto ao lado da também veterana Ruth de Souza e de Taís Araújo, vítima de ataques racistas, no início do mês. "Sou uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, no início dos anos 70, e desde então, houve alguns avanços, embora a gente tenha muita luta pela frente", iniciou a artista do elenco da novela "Escrava Mãe", da TV Record.
"Sou do tempo que em novela tinha apenas dois ou três atores negros, que faziam sempre papéis subalternos. O problema não era fazer empregados, mas é que esses personagens viviam a reboque. Essa era a questão, não tinham uma história própria, estavam a serviço de outros personagens. Então, se a gente faz uma comparação, vamos ver que houve avanços, mas ainda somos poucos em muitos departamentos", completou Zezé, intérprete da empregada Sebastiana na novela "Boogie Oogie".
'Brasil tem dívida com negros e indígenas', afirmou a artista
E a atriz seguiu em seu desabafo. "Há questões no Brasil que não funcionam por erros básicos. A começar pela legislação, que é falha. Quando sai uma lei a favor dos negros, fica todo mundo dizendo que é paternalismo, mas esquecem onde estão os negros: nas prisões, nas favelas, morando em encostas. Na verdade, o erro vem desde a abolição, quando abriram as portas das senzalas sem ter um programa para que essas pessoas tivessem uma vida digna. Os negros, então, ficaram sem casa, comida e cultura. Uma coisa perversa", opinou Zezé.
A artista foi além, citando as cotas raciais em concursos públicos e universidades. "O Brasil tem uma dívida com as populações negra e indígena e as cotas podem minimizar esses erros históricos. Vejo a questão das cotas como uma medida provisória. Se esse negro que for beneficiado tiver uma boa preparação ele não vai precisar de cotas para o seu filho", finalizou.
Taís Araújo prestou queixa após ataques
Logo após ser alvo de mensagens preconceituosas em sua conta de Facebook, a mulher de Lázaro Ramos recebeu o apoio de colegas de profissão e do público. Dias depois, a atriz prestou depoimento na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), em Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro. "Meu caso não é isolado e é exatamente o que acontece com milhares de outros negros no País", afirmou Taís em nota à imprensa.
"Ela (Taís Araújo) veio aqui até a delegacia, fez o seu papel e seguiu sua vida. Ela não está fazendo papel de vítima, de coitadinha. Ela está exercendo um direito dela de cidadã", disse o delegado Alessandro Thiers, responsável por ouvir a artista.
(Por Guilherme Guidorizzi)