Presente em dos maiores sucessos da Netflix - tanto no Brasil quanto no restante do mundo -, Raquel Fabbri tem motivos de sobra para comemorar. A Eudora de 'Pedaço de Mim' marcou a narrativa com seu jeitão destemido, empoderado e inspirador, ao lado de grandes nomes do audiovisual brasileiro! O trabalho se tornou ainda mais significativo para ela, já que foi a primeira vez em que atuou, após ser diagnosticada corretamente com TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) e TEA (transtorno do espectro autista).
Em entrevista exclusiva ao Purepeople, Fabbri - que é uma voz ativa sobre saúde mental nas redes sociais -, falou a respeito do diagnóstico tardio e da importância de se posicionar sobre a temática, trazendo representatividade. "A falta de informação fez com que a maior parte da minha geração - millennials - esteja sendo diagnosticada tardiamente no espectro autista e TDAH. Eu sei o quanto isso dificultou o meu dia a dia, minha vida inteira me senti excluída, diferente demais", confessou ela, que também enfrentou a anorexia na juventude.
"Sofri muito com julgamento alheio, com apagamento social. Tive que me achatar para caber nos lugares, fui mal compreendida por não entender as coisas. Preciso falar sobre isso, as pessoas precisam se conectar com si próprias. Principalmente as mulheres que sofrem por não ter um parâmetro médico para diagnóstico", complementou ela.
Finalmente entendendo mais sobre si mesma, Raquel teve a oportunidade de encarnar Eudora. "Foi meu primeiro trabalho diagnosticada, medicada da forma correta. O tamanho disso não tem como mensurar", celebrou. Questionada sobre as referências que usou para construir a personagem, Fabbri disse ter procurando inspiração em pessoas do mundo real - incluindo a si mesma!
"Sempre procuro agregar o todo que envolve a história da personagem - a parte sociocultural, estrutural e antropológica. A forma como me bate, que voz vem, a postura. A Eudora me trouxe muito a liberdade de estampar um pouco de mim nela, de trazer força e delicadeza pra uma personagem que é tão assertiva e tão direta mas delicada sempre", explicou a artista.
A carioca destacou que tanto ela, quanto a personagem são 'intensas e verdadeiras'. "A Eudora teve a alegria de ser livre mais cedo. De defender seu lugar sem medo mais cedo. Há 20 anos, eu era só uma garota que incomodava. Hoje, o que eu sou e o que eu falo faz sentido!", exprimiu, com orgulho! "Eu estava muito ansiosa para entrar em uma produção falando disso [TEA e TDAH] abertamente, sem saber a repercussão ou como isso seria recebido. [...] Acredito que a arte anda junto com a neurodivergência", acrescentou.
Ela, que já passou por duas das maiores emissoras da América Latina ao longo da carreira - TV Globo e Record -, voltou ao streaming, mas não enxerga o enfraquecimento da televisão, como alguns colunistas e espectadores insistem em apontar: "É como aconteceu faz uns anos, quando a internet veio com força e as pessoas achavam que o rádio simplesmente ia se extinguir".
"São duas plataformas completamente diferentes. A forma de escrever, produzir, reproduzir. O texto, o contexto. Esse 'enfraquecimento' é nada mais que um ajuste do meio. E isso sempre vai acontecer, o espaço do entretenimento está em constante transformação e evolução", declarou, convicta. Em seguida, Raquel destacou o poder do teatro: "Existe espaço pra todas as formas de arte. O teatro continua mais vivo que nunca, eis uma arte que estaria talvez apagada pelo streaming e segue firme e forte".
No melodrama, Eudora dá um verdadeiro 'sacode' em Débora, vivida por Martha Nowill, ao apontar a importância de apoiar uma vitima de violência sexual, sem duvidar de suas palavras. O momento foi bastante aclamado por internautas por representar uma virada significativa na trama!
Fabbri revelou que já passou por situação parecida fora das telinhas e ressaltou que o importante é a forma de falar. "Precisamos ter amor pra falar, e confrontar com a realidade. Não podemos mais fingir que as coisas não são o que são. Mais do que tudo, é não ter medo de defender um ponto de vista, e defender alguém num lugar de vulnerabilidade seja ela qual for", expressou.
Parte de um fenômeno, que deve moldar os caminhos do streaming nos próximos meses, Raquel se sente grata. "É extremamente especial [participar da obra da Netflix]. Tá sendo um marco importante na carreira, é o resultado de muito trabalho ao longo de anos, e de nunca desistir", avaliou ela, que começou a carreira artística aos 12 anos.
"Mesmo quando a gente acha que tá na hora de desistir, jogar a toalha, o universo vem e te joga um presente no colo pra te fazer acordar pra vida. Ou você abraça a oportunidade ou você deixa passar. Foi libertador, foi isso tudo! E tá sendo incrível estar nos top 10 mundiais e brasileiro!", concluiu.