Nesta terça-feira (29), é celebrado o dia da Visibilidade Trans: a data foi criada em 2004 depois de um ato organizado em Brasília para dar evidenciar a busca de igualdade das pessoas trans, isto é, que não se identificam com o gênero que nasceram. Entretanto, não é preciso se identificar como uma delas para entrar na luta contra o preconceito. Pensando nisso, o Purepeople deu voz a elas para saber como pessoas cis, termo que designa quem se identifica com o gênero que nasce, podem ajudar. Nathálie Oliveira, primeira mulher trans a concorrer no concurso do Miss RJ, exalta a importância da comunicação não-violenta na web. "Na internet, não incentive o ódio, o preconceito e o desrespeito as pessoas trans".
Nas redes sociais, muitas pessoas se aproveitam do anonimato para destilar julgamentos contra o outro, seja por diferenças na cor de pele, por orientação sexual ou identidade de gênero diferentes. Por isso, mesmo que você não seja o autor da postagem, faça com que ela circule menos. "Evite dar ibope, seja compartilhando, comentando ou curtindo posts transfóbicos", afirma a jovem. Dona de um canal no Youtube, o Princess Online, Nathálie já recebeu comentários ofensivos, mas criou uma tática para se proteger. "Sempre são fakes, nunca se identificam. No início, eu respondia, tentava fazer aquela pessoa entender ou explicar alguma situação, mas com o tempo percebi que era puro ódio. Aí passei a não responder mais, porque é um desgaste físico e psicológico muito grande, então hoje prefiro nem responder".
Outro passo é, mesmo que você não seja pai ou mãe, incentivar uma criação livre de estigmas das crianças que te cercam. "É importante ensinar desde cedo as crianças a respeitar as pessoas e suas características particulares", conta a ruiva, adicionando: "Acho que as crianças são um reflexo do que elas vivem e dos que os pais fazem. Se desde a infância os pais fazem esse trabalho de conscientização, explicando que a pele negra é linda também, que aquela pessoa ali se relaciona com outra do mesmo sexo, mas isso é normal, vai ver isso muito... São posicionamentos simples para o convívio social e que vão fazer ela entender e ver isso com normalidade", afirmou.
Autor do livro "Eu Trans", Jordhan Lessa, de 51 anos, foi um dos consultores de Gloria Perez para escrever a trama de Ivan em "A Força do Querer", que trouxe o tema para o horário nobre global. E pondera que a transsexualidade ainda deve ser muito discutida, sem que isso seja minimizado ou polemize. "A representatividade na mídia é muito importante, poucas pessoas ouviam falar sobre transsexualidade. Recentemente, eu soube de uma pesquisa na qual 45% das pessoas desconheciam, não sabiam o que era esse termo. E o surgimento dessas representações começa a dar uma vaga noção do que, mesmo que inicialmente cause um mal estar, o assunto começa a ser debatido, você consegue levar informação", explicou o funcionário público carioca, que passou na realidade uma cena interpreta por Carol Duarte na ficção: "A cena de quando ela se olha no espelho foi uma coisa que eu vivi, aconteceu comigo".
Esse conselho é básico e vale para todas as relações interpessoais, seja com outras mulheres ou homens, mas o alerta deve ser ainda maior no dia da visibilidade trans. Cada vez mais eles conquistam lugares no mercado de trabalho e por isso, não devem ser feito pré-julgamentos. "É importante quebrar os estereótipos, faço parte do RENOSP (Rede Nacional de Operadores de segurança pública Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexos e mais) e é um grupo que está crescendo exponencialmente, é importante que as pessoas saibam que podem ocupar esses espaços", afirma Jordhan: "É importante saber se colocar no lugar outro. A empatia é um valor fundamental".
(Por Marilise Gomes)