A representatividade asiática é uma pauta recorrente nas redes sociais de Jacqueline Sato: com 10 anos de carreira na TV, a atriz de 32 anos conta ao Purepeople como busca colocar em foco a busca por uma maior diversidade e também empoderamento de mulheres com a mesma ascendência que a sua. "Estamos vivendo um momento de mudança positiva em relação a isso. São ações e manifestações que vão desde o público que vem criticando quando não vê esta representatividade na tela, ou nas páginas", aponta.
No exterior, um exemplo veio no Globo de Ouro deste ano, por exemplo, quando a chinesa Chloé Zhao venceu pela 1ª vez na categoria Melhor Diretor. Já no Brasil, a mudança acontece a passos mais lentos. "A primeira novela brasileira foi ao ar em 1951, somente 35 anos depois houve a presença da primeira mulher amarela (Cristina Sano) em uma telenovela ("Roda de Fogo - 1986), e somente 31 anos depois surgiu a primeira protagonista (Ana Hikari) na TV aberta brasileira ("Malhação - Viva a diferença" - 2017). Até que essa mudança expressiva em relação à representatividade acontecesse se passaram 66 anos", revela sobre a colega de trabalho que também se destacou em "As Five".
Ela ainda alerta: "Já houve muito menos oportunidades, está melhor, mas o caminho precisa ser crescente e é cada vez mais urgente. A cada dia que passa, essa urgência e as consequências desta falta se multiplicam. Temos que estar atentos para não permitirmos retrocessos. E é muito importante que cada vez mais se fale sobre, se cobre, e mais e mais pessoas se manifestem para ampliarmos esta consciência, uma vez que você se conscientiza de algo, não tem como voltar atrás."
E se atualmente o debate contra o racismo e em prol da representatividade é mais amplo, no passado Jacqueline quis ir além do seu fenótipo e não se limitou àqueles que eram voltados especificamente para atrizes com ascendência asiática. "Diversos papéis meus não vieram até mim por conta das minhas características étnico-raciais e, sim, pelo meu trabalho consistente como atriz. Desde minha primeira novela no SBT, em que lembro nitidamente de ficar extremamente feliz em ver que pessoas com diversas características fenotípicas estavam sendo testadas para o mesmo papel", analisa.
A paulistana também aponta alguns estereótipos equivocados que ainda vê no mundo atual. "Já passei por algumas situações em que a pessoa brinca que era pra eu fazer a conta porque certamente eu seria boa com exatas, onde na real, sempre fui muito fraca, tirava as piores notas na escola nessa área, por exemplo", relembra.
Outro ponto recorrente é a fetichização: "De um modo simples e direto, como exemplificar? 'Sempre quis namorar uma asiática' é uma das frases mais manjadas para identificar o recorte racial da fetichização. E esta é uma frase que quase toda asiática ou descendente já ouviu uma ou muitas vezes na vida".
Para a artista, neta de avô japonês, não faltam nomes e exemplos que a inspiram profissionalmente. "Quando eu vejo a Sandra Oh arrasando na série 'Killing Eve', ganhando o Globo de Ouro pela segunda vez, e sendo a primeira mulher amarela a apresentar este evento de prestígio, quando eu a vejo ser nomeada ao Emmy de melhor atriz novamente em 2020, ou quando vejo a Awkafina ganhar o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro, e também quando vejo o filme coreano 'Parasita' ganhar o Oscar, isso bate em mim, fico feliz de um jeito diferente, por que, de alguma forma, eu vejo a diversidade e representatividade étnico-racial conquistando seu espaço e isto me inspira, e muito", comemora.
"Aqui no Brasil temos também excelentes artistas, como a Miwa Yanagizawa, que conheci pessoalmente quando ela interpretou minha mãe na novela, e tem um trabalho expressivo e consistente no Teatro, é também diretora, premiadíssima, dá cursos, uma mulher multitalentosa e inspiradora. A Cristina Sano, pioneira sendo a primeira mulher amarela presente em telenovelas na nossa TV brasileira, é também diretora, e abriu muitos caminhos - e olha que engraçado, também a conheci pessoalmente quando ela interpretou minha mãe, na série ainda a ser lançada, 'Os Ausentes'. É claro que tenho diversas outras referências não-amarelas, mas escolho, desta vez, focar nestas", acrescenta.
(Por Marilise Gomes)