Rui Vilhena optou por um final pouco convencional para a novela "Boogie Oogie". Apesar de ter sido criticado durante os oito meses em que a trama esteve no ar por ter uma dramaturgia permeada por clichês, o autor abriu mão da cena mais clichê dos desfechos de folhetim: o casamento. Sandra (Isis Valverde), a azarada mocinha que tentava se casar desde o primeiro capítulo, chegou ao final do história sem conseguir dizer "sim" para Rafael (Marco Pigossi) no altar.
Conforme prometido, a revelação do misterioso atropelador só foi aconteceu no último capítulo, que foi ao ar nesta sexta-feira (06). A delegada Ágata (Pepita Rodrigues), mais conhecida pela alcunha de "O Corvo" - um bandido famoso -, ficou impune, já que Homero (Osvaldo Mil) foi flagrado tentando atropelar Vitória (Bianca Bin) e acabou "pagando o pato" pelos assassinatos que não cometeu. Outra surpresa foi a carta deixada por Carlota, revelando um detalhe importante de seu segredo que ainda estava omitido. A vilã terminou sozinha, porém de posse das joias caríssimas que ela roubou na fatídica noite da confusão na boate Vogue.
O último quase foi o primeiro
Fechar uma história quase da mesma maneira que ela começou não foi uma má escolha. Do ponto de vista dramatúrgico o recurso é interessante e, ainda que seja difícil acreditar que tantos detalhes tenham se repetido na vida de Sandra - como o vestido de noiva manchado, por exemplo - foi fácil entender qual era a intenção do autor. Porém, a expectativa de ver a mocinha ter o seu final feliz colocando a aliança no dedo, ficou apenas no âmbito do subentendido.
Se Ísis Valverde brilhou com sua interpretação emocionada no primeiro capítulo, esta foi a vez de Marco Pigossi. O ator esteve excepcionalmente bem na sequência em que Rafael fala com o sequestrador de sua noiva pelo rádio do avião e dá instruções a Pedro, na tentativa de evitar a tragédia. Com toda a angústia e desespero do piloto estampadas em seu rosto, ele conseguiu demonstrar o autocontrole necessário ao momento, na pele do personagem. O que dizer então da corrida até o local do acidente - como a de Sandra no primeiro capítulo -, em que ele finalmente solta o choro? Impossível não se comover também do lado de cá da TV.
Vitória, a garota que tanto meteu os pés pelas mãos e chegou a ganhar ares de vilã em alguns momentos, deu a maior prova de amor de toda a trama, ao salvar a vida da rival. Esse gesto, além de heróico, foi uma demonstração de seu altruísmo e da grandeza do sentimento que ela tem pelo piloto. Foi a maneira de mostrar o quanto a loirinha quer vê-lo feliz e que sabe que só conseguirá esse feito ao lado de Sandra. Bianca Bin, sem texto, foi brilhante na execução da cena, transpondo toda a emoção da personagem no olhar de Vitória para Rafael.
Sem casamento, o final feliz foi na pista da Boogie Oogie
Se Rui Vilhena evitou o clichê do casamento no final, não abriu mão do sequestro. Medida drástica geralmente tomada pelos vilões, como sendo um último recurso para atingir seus objetivos, o crime aparece na maioria dos fins de novela e não foi diferente em "Boogie Oogie". Em vez do casório, porém, os personagens se despediram dançando na pista da discoteca.
Mas como foi dito pelo autor em entrevista ao Purepeople, quando a novela alcançou o capítulo 100, a proposta da trama era mostrar um novelão "clássico com tempero novo". A inversão de papeis no último capítulo corrobora isso: a mocinha foi salva pela rival, que se redimiu se tornando heroína. E com isso um personagem feminino faz as vezes do célebre "príncipe encantado que salva a princesa" no imaginário coletivo, o que condiz muito bem com a realidade atual. Em tempo: a dúvida plantada sobre a relação de Beto (Rodrigo Simas) com Vitória, inclusive, foi outro acerto.
Embalada pelos sucessos da disco e cheia reviravoltas, segredos revelados, assassino misterioso, e histórias de amor, "Boogie Oogie" vai deixar saudades. Para além de ser ambientada na década de 70, a trama resgatou também o clima e a dinâmica das ótimas novelas dessa época. Mesmo com a ausência do casamento, o único senão deste último capítulo, não perde o mérito de ter sido empolgante e divertida, uma novela que prendeu o telespectador e o deixou com vontade de ver mais em cada final de capítulo, desde o primeiro até o último.
(Por Samyta Nunes)