Nascida na Paris do início do século XX, há exatos 135, Gabrielle Bonheur Chanel, sempre foi associada à liberdade (ela nunca se casou, mas teve casos notórios ao longo de toda a vida) e a um pensamento a frente do seu tempo. Nascida em uma família pobre e órfã aos seis anos de idade, Chanel trabalhou por um breve período como cantora – época em que ganhou o apelido Coco – e depois de descobrir sua verdadeira vocação, tendo aberto sua primeira chapelaria em 1910, foi se tornar a maior designer de roupas do mundo, criando um legado como grife mais importante do planeta até os dias de hoje. Seu nome é instantaneamente associado à elegância e essa construção não se deu por acaso. A marca revelou recentemente, pela primeira vez, seu faturamento depois de 110 anos de existência.
Chanel era diferente e valorizava a simplicidade. Foi pioneira em pegar emprestado para visuais femininos peças do guarda-roupa masculino e gostava de criar coisas confortáveis, que não limitassem o corpo. "Ela fez uma mistura do vocabulário de roupas femininas e masculinas e criou uma moda que deu ao usuário um sentimento de luxo íntimo, em lugar da ostentação", definiu a jornalista Ingrid Sischy sobre o trabalho de Coco Chanel. E é por quebrar os paradigmas da feminilidade que o legado da designer não só sobrevive, mas é de grande importância até os dias atuais. Hoje, a grife – provavelmente a maison de moda mais importante do mundo -- é comandada pelo alemão Karl Lagerfeld. No comando da direção criativa desde os anos 80, Karl sempre respeitou o legado da marca, que teve a segunda modelo negra como noiva em seu último desfile de alta-costura. Confira algumas das contribuições que Chanel deixou para a moda.
Foi Chanel quem introduziu o jérsei de malha na moda e aboliu o visual de cintura supermarcada, que prendia o corpo feminino. Ao contrário, seus vestidos de noite tinham cortes simples e tinham o objetivo, segundo ela mesma, de conquistar mulheres de bom gosto e sem recursos para ostentar o que era considerado chique na época. Assim nasceu o pretinho básico. Em 1926, pela primeira vez, uma ilustração na "Vogue" mostrava um modelo do vestido limpo, sem detalhes, que Chanel reproduziria ao longo de toda sua carreira. A estilista era entusiasta dos acessórios e gostava de enfeitar os visuais mais simples com joias e outros detalhes.
É célebre a frase atribuída a Chanel que diz "Uma mulher precisa de voltas e voltas de pérolas". Segundo a história, a estilista ganhou de presente de Dmitri Pavlovich, monarca da Rússia e seu amante, um colar de seis voltas, isso foi no início dos anos de 1920. Chanel era conhecida por misturar pérolas falsas e verdadeiras eternizou o acessório como um símbolo de status fashion e sinônimo de elegância.
Até o final do século XIX, as listras eram usadas para uniformizar presos e pessoas com algum tipo de deficiência mental. Já no final do século, a Marinha Francesa adotou o visual listrado por conta da facilidade de identificar os homens ao mar. Já no século XX, em uma viagem ao litoral francês, Chanel se encantou pelo uniforme dos marinheiros e se inspirou no visual navy para criar uma coleção. Assim nasceu a camisa Breton ou simplesmente camisa listrada, mais uma peça eternizada pela estilista francesa.
Além desses três itens icônicos, diversos outros são criações -- ou foram difundidos – pela estilista francesa. O corte de cabelo curtinho, na altura do queixo (ao qual chamamos de Chanel) é atribuído a Gabrielle. Dizem que ela teve de cortar o cabelo depois de um incêndio que chamuscou seus cabelos. Também levam a assinatura Chanel o tailleur de tweed (clássico da marca) e o perfume mais conhecido de todos os tempos, o Chanel nº 5, o qual a atriz Marylin Monroe já declarou usar cinco gotas para dormir, e só! Por fim, a famosa camélia branca, por vezes usada na lapela, era a flor favorita de coco e tornou-se um dos símbolos de sua marca, aparecendo até os dias de hoje nas coleções da Chanel.
(por Deborah Couto)