Em 13 anos uma vida inteira pode mudar. Em 2008, quando participou de sua primeira corrida no país, Lewis Hamilton era um jovem, de 23 anos, que ainda buscava um propósito de vida e carreira. Agora, aos 36 anos, o piloto, que está no país para o GP de São Paulo, se firma como um nome importante dentro e fora das pistas, servindo de inspiração para jovens do mundo inteiro, que enxergam na atuação do inglês, em diferentes setores da sociedade, um modelo a ser seguido (veja o que ele diz sobre antirracismo ao lado de outras personalidades).
E vários exemplos sobre essas atuações podem ser citados. Desde o protesto de Lewis no pódio no Grande Prêmio de Toscana, no ano passado. Nele, o piloto vestiu uma camisa em referência à Breonna Taylor, norte-americana negra morta em março por policiais que invadiram seu apartamento na cidade de Louisville, no estado do Kentucky. Na ocasião, a FIA (Federação Internacional do Automóvel) proibiu o uso de camisas durante as corridas. O que Lewis fez? Surgiu com um óculos escuro escrito: Black Lives Matter, no GP da Rússia.
Fora das pistas, o piloto - amigo do atleta brasileiro Neymar - também realiza projetos e levanta a voz para causas que lhe são justas. Um exemplo é o Mission 44 que, em conjunto com a organização Teach First, tem como objetivo recrutar e treinar professores negros para trabalharem em escolas britânicas gerando, assim, mais diversidade no corpo acadêmico.
"É a maior fonte de orgulho para mim. Começamos fazendo o comitê Hamilton, focado em entender as barreiras dos jovens negros para entrar em algumas áreas de trabalho. Através desse aprendizado, a gente percebe que os problemas não estão só no sistema educacional, mas que são questões sistêmicas. O objetivo da organização é analisar os problemas sistêmicos e pensar em como podemos encorajar as pessoas a trabalharem na carreira que desejam", avalia o atleta durante coletiva que teve o Purepeople entre os convidados.
"Qualquer jovem deve ter o direito de considerar qualquer carreira. E não é o que vemos. O que vemos são jovens negros não considerando algumas carreiras por não acharem que são para eles. Com isso, a representatividade é muito importante. O primeiro passo que demos foi recrutar professores negros, para que eles sirvam de exemplos para esses alunos e futuros profissionais", explica Lewis.
O piloto, que durante muito tempo foi (e ainda é) o único negro a disputar a Fórmula 1, enxerga o peso que sua figura representa para diversos jovens ao redor do mundo. "É um privilégio ser uma figura de representatividade. Quando comecei no esporte, sempre tentei entender o meu propósito. Durante mto tempo fui o único piloto negro. Tentei entender o que iria fazer com isso. Percebi que sempre tenho um trabalho a fazer, além de pilotar".
Trabalho que Lewis vem desempenhando em vários âmbitos sociais, fazendo o piloto se aventurar, até, no mundo da moda - como na collab com uma grife que desfilou na London Fashion Week (2020). Na edição deste ano do MET Gala, Hamilton comprou uma mesa e convidou jovens designers negros para participarem do evento. A reserva custou cerca de 275 mil dólares (aproximadamente R$ 1,5 milhão). O preço pode ser considerado alto, mas nada é maior do que o valor social que a questão representa para o piloto.
"O MET Gala tinha como tema a história americana. Queria dar um assento nessa mesa para as pessoas que nunca tiveram essa oportunidade e que são talentosas. Me sinto orgulhoso de ter feito parte disso. E esse é só o início", garante Lewis.
"Me lembro de sentir que não me encaixava. Eu gostava de me vestir de uma forma diferente, mas sempre estive focado nas corridas. Quando entrei na F1, tive que me encaixar, que me conformar, sou a única pessoa negra em várias reuniões que participo. Lembro de ter visto um evento de moda pela primeira vez e me deparei com uma diversidade tão grande, que senti que eu pertencia aquele lugar. Gosto dessa diversidade da moda."
No Brasil para a corrida, Lewis revelou que tem um carinho especial pelo país. O amigo de Neymar citou alguns outros esportistas que o inspiram em sua caminhada. "Tenho contato com Neymar, sei que o país tem jogadores de futebol impressionantes. Que isso é uma paixão, mas sei também que o país tem surfistas incríveis, como o Gabriel Medina, o Ítalo Ferreira. São atletas a se inspirar", listou ele sobre o marido de Yasmin Brunet que está passando por uma fase conturbada na vida pessoal e o ouro olímpico em Tóquio.
E falando em inspiração, no mundo das corridas, Hamilton não esconde sua admiração por Ayrton Senna. "Assisti a muitas corridas históricas. Quando o Ayrton estava correndo, a forma como ele incorporava me chamava atenção. Meu sonho era fazer algo assim: ajudar a influenciar às pessoas de maneira positiva, como o Ayrton fez. Ainda não consegui chegar nesse nível na Inglaterra, mas pretendo".