A CPI da Covid desta segunda-feira (18) ouviu parentes de vítimas da pandemia. Nas falas, além de narrarem suas histórias e como o coronavírus afetou suas vidas, os depoentes também fizeram críticas ao comportamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A enfermeira Mayra Pires Lima, que perdeu a irmã; Katia Shirlene Castilho dos Santos, que perdeu os pais para a doença; o paciente Arquivaldo Bites Leão Leite; Márcio Antonio do Nascimento Silva, que perdeu o filho de 25 anos, Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, que perdeu os pais e terá a guarda irmã de 10 anos, e Rosane Maria dos Santos Brandão, que ficou viúva, foram os ouvidos durante a CPI.
A Comissão tem como objetivo apurar se houve falhas por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia.
O Brasil registrou, até domingo (17), mais de 603 mil mortes por Covid-19. Dentre elas, alguns famosos como Nicette Bruno, Agnaldo Timóteo, Tarcísio Meira e Paulo Gustavo não resistiram a complicações da doença.
O taxista Márcio Antônio, que perdeu o filho de 25 anos para a doença, viralizou nas redes sociais ao ser filmado em um ato do Rio de Paz. No vídeo, a ONG havia fincado lenços brancos e cruzes na areia da praia de Copacabana, Zona Sul do Rio, e foi banalizado por apoiadores do presidente. Márcio passava pelo local no momento e recolocou os objetos no lugar.
"Eu não posso aceitar que alguém faça uma brincadeira com isso. Não posso entender como outros pais acham que isso é normal. Não é normal. Há muito sofrimento. Não é só meu filho. Estou falando de tudo que a gente vivencia. A última mensagem do meu filho pra mim foi: Pai, acho que não vou conseguir. É muito triste. O sentimento que eu fico não é pela dor da morte. É por tudo que vem depois. Cada deboche, cada ironia. No meu coração, foi muito difícil. A gente está falando de vida. Quem falar que isso daqui é circo, são os verdadeiros palhaços", explicou Márcio.
"Eu acho que um verdadeiro líder tem que querer o melhor das pessoas. Tiveram certos momentos que parecia que meu filho era culpado por ter morrido de Covid. No dia da praia, quando descobriram que era apenas um pai triste por seu filho, foi um constrangimento geral".
Recentemente, Xuxa usou as redes sociais para fazer duras críticas ao presidente.
Katia Shirlene, de São Paulo, contou como perdeu os pais para a doença. Ela explicou que a mãe recebeu o Kit Covid, mas que ele não deu resultado.
"Como você vai falar para uma idosa que confia no convênio que o remédio não serve? A gente percebeu que a saturação dela estava oscilando muito. Levamos ela ao hospital. Estava bem lotado. Ficamos três horas para sermos atendidos", relembrou.
Ela também contou que a irmã precisou ajudar o funcionário da funerária a encontrar o corpo do pai, pois haviam muitos mortos no local.
"No mesmo dia que internamos a minha mãe, recebemos a notícia de que meu pai tinha falecido. Fiquei com a minha mãe no hospital e minha irmã foi ver o sepultamento. Para piorar, naquele dia que meu pai faleceu chegou a quase 4 mil mortos. Foi o pico da segunda onda. Minha irmã teve que ir no carro da funerária e quando ela chegou no necrotério, não estavam encontrando o corpo do meu pai. Eram muitos corpos dentro de um caso preto e o rapaz responsável pediu a ajuda dela para procurar o corpo do meu pai".
"Ela teve que pegar o corpo do meu pai e ela teve que colocar o corpo do meu pai dentro do caixão. Quando a gente ve um presidente da republica imitando uma pessoa com falta de ar, isso para nós e muito doloroso. Se ele tivesse ideia do mal que ele faz para a nação, ele não faria isso", completou.
Giovanna Gomes, de 19 anos, também perdeu os pais para a doença e assumiu a guarda da irmã, de 10 anos. No depoimento, a jovem falou pelos menores de idade que tiveram os pais mortos pela doença e precisam de ajuda financeira do governo.
"A gente não teve tempo de sofrer pela minha mãe. Quando os meus pais faleceram, a gente perdeu uma vida de alegria. A partir daí, eu decidi que precisava ficar com a guarda da minha irmã. Hoje a gente tem mais de 120 mil órfãos pela doença no país. O governo tem responsabilidade por essas vidas. Eu senti dois impactos: emocional e financeiro. Tínhamos os dois pilares das nossas vidas", explicou a jovem.
Nesta terça-feira (19), a CPI ouvirá Elton da Silva Chaves, representante do Conasems (Conselho de Secretarias Municipais de Saúde).