Na próxima sexta-feira (8), Ariadna Arantes representará um marco na história do Carnaval. À frente da bateria da escola de samba Unidos da Vila Santa Tereza, a modelo transexual, de 28 anos - e que ganhou notoriedade ao participar do "BBB11" na TV Globo -, deixará a homofobia em silêncio durante o desfile da novo Grupo de Ouro da folia na Marquês de Sapucaí, no Rio.
A três dias da apresentação, a ex-cabeleireira falou ao Purepeople sobre suas expectativas. "Estou um pouco nervosa por que é a primeira vez. É uma responsabilidade muito grande pois existe uma cobrança do público e também uma cobrança pessoal. Quero estar bem maquiada, sentir que tudo será perfeito", conta, ainda surpresa com o convite, feito em meados do ano passado.
"Antes de eu ser famosa, nunca pensei que teria essa oportunidade. Nunca pensei que teria essa importância no Carnaval, que seria famosa, ou que faria trabalhos como modelo na Itália", diz ela, referindo-se à campanha contra o preconceito promovida pela grife italiana Braisamara.
A fantasia só poderá ser mostrada no dia do desfile. Praticante do candomblé, Ariadna entrará no Sambódromo representando Yemanjá, o que considera uma honra. "Sou adepta e Yemanjá é um orixá bem grande. É maravilhoso vir representando uma deusa". Sem poder ilustrar, ela conta que o corpo será bem exibido. "A roupa é pequenininha, com pedrarias, em tons de azul e o adereço de cabeça será bem bonito". Na segunda-feira (4), a sandália que será usada no desfile, avaliada em mais de R$ 10 mil, da marca Loriblu, chegou da Itália. "É em cristais Swarovski e foi feita exclusivamente para mim. Por isso se tornou tão cara".
Após ser musa da Vila Isabel em 2011 e destaque na paulista Vai-Vai no ano seguinte, a transex está certa de que o peso na próxima sexta-feira será diferente. "Para o carioca, é impossível não saber sambar. Preciso fazer bonito porque represento uma classe, uma quebra de tabus contra o preconceito", afirma com a voz tão feminina quanto seu posicionamento. Sobre comentários maldosos, ela procura não se estender. "Sinto pena dessas pessoas amargas e infelizes. Só me chateia porque é uma ofensa sem conhecer, a troco de nada".
Segundo ela, não houve tempo para muita preparação e agora está segurando como pode na alimentação. Saladas e proteínas são prioridades no cardápio para chegar com tudo em cima. Dona de um corpo mignon para os padrões transexuais, Ariadna já não dá muito espaço para o preconceito. "Quando me conhecem pessoalmente, quebram a imagem. Acham que sou um travecão de dois metros de altura e aí veem que sou toda pequenininha, tenho 1,72 m, calço 37", diz. Ao contrário de Lea T., ela teve a vida transformada pela cirurgia, quatro anos atrás. "Ela não recomendaria, mas para mim, foi um remédio para a alma".
Solteira e prestes a estrear o espetáculo "A Guerra Continua Outra Vez", ela afirma sentir falta de um namorado, mas não sente dificuldade em se relacionar. "Hoje em dia todo mundo sabe. O homem que fica comigo não costuma ter problemas com questões de gênero. Até porque ele está com uma mulher", dispara.
(por Raisa Carlos de Andrade)