A luta pela igualdade de gênero e a denúncia de assédios têm ganhado cada vez mais força no cenário nacional e internacional: no Oscar, por exemplo, atrizes se reuniram em um discurso de apoio ao "Time's Up", campanha que motivou protestos em diversas premiações. No Brasil, o movimento "Deixa Ela Trabalhar" ganhou as redes sociais nesta segunda-feira (26), trazendo para discussão os episódios de assédio vividos por mulheres no jornalismo esportivo. A ideia surgiu com Bruna Dealtry, do "Esporte Interativo", após ela ter sido beijada à força por um torcedor durante uma transmissão ao vivo, e ganhou representantes como Fernanda Gentil, Cris Dias e Carol Barcellos.
Em entrevista ao Purepeople, Bruna conta como surgiu a ideia da ação. "Isso acontece todos os dias, mas a gente não fala por vergonha ou por medo da exposição. Eu queria encorajar outras mulheres: primeiro, aqui na minha redação. Fizemos um grupo, depois foram entrando meninas de outras redações e, em uma semana, eram 50 jornalistas, aproximadamente. E começamos a produzir texto, vídeo, virando a noite para editar... Estamos aprendendo muito também!", destaca a jornalista.
Bruna explica que, desde que começou a falar com colegas de profissão, foi ficando ciente de novos episódios em que o machismo, preconceito do qual a atriz Sophia Abrahão também já se viu alvo, era evidente. "Acontece de vários tipos: na redação, em colega de trabalho. Todas nós já sofremos nas redes sociais, porque as pessoas ficam mais corajosas para falar. Ao invés de falar da matéria, falam da nossa aparência... Tem assédio e machismo de diferentes formas. Sem falar na resistência que a gente encontra para entrar nesse meio. Os homens, assessores, jogadores, colegas de trabalho, tem muito mais dificuldade em confiar no nosso trabalho do que se fosse outro homem", pondera.
A visibilidade do caso foi tamanha que ganhou repercussão internacional, a exemplo do episódio de assédio envolvendo o ator veterano José Mayer, em abril do ano passado. "Foi muito maior do que eu imaginava, rodou em todas as emissoras, acabei de dar entrevista para o 'The Guardian'. Acho que estamos conseguindo levantar um debate saudável, educado, sobre um assunto para a gente aprender mais", afirma Bruna, listando novas ações para o projeto: "Lançamos o primeiro vídeo, mas queremos fazer mais, talvez depoimentos, vídeos...". Com palavras como sororidade e empoderamento ganhando cada vez mais força, ela vê o panorama atual como ideal para uma discussão mais abrangente: "As pessoas estão muito mais abertas para receber a informação que eu passei. Acho que estão muito mais conscientes e o momento é perfeito para a gente debater esse tema".
(Por Marilise Gomes)