Em sua primeira novela das nove, Walcyr Carrasco pretende debater um dos assuntos mais discutidos dos últimos tempos no país e garante ter pensado nisso antes mesmo da polêmica gerada em torno de Marco Feliciano. O autor, que não se cansa de trabalhar, produziu doze novelas em dez anos. Fora os livros... Prestes a ocupar o horário de Glória Perez, ele trabalha em ritmo exaustivo para o que define como um "novelão clássico" com visão contemporânea, que irá abordar a união entre pessoas do mesmo sexo. "Tem o casal gay que quer ter um filho por inseminação e contrata uma barriga de aluguel. Com eles eu não vou brincar. É realmente para mostrar a existência dessa nova família. Não há crítica. É um casal gay estabelecido", contou ao jornal "Folha de S.Paulo".
Questionado sobre alfinetadas à Marcos Feliciano, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, Walcyr garante que ter pensado nisso antes e afirma que mostrará o lado maléfico de um homossexual, nunca explorado pela dramaturgia brasileira. "O personagem já existia antes do aparecimento do pastor Feliciano", dispara, ironizando as declarações homofóbicas do deputado. "Estou escrevendo a novela há um ano. Mas, de certa maneira, é um tipo que o Feliciano aprovaria, porque não se expõe. É o gay no armário, casado e com filho".
Segundo Walcyr, o fato de dar espaço ao homossexual de caráter duvidoso já criou polêmica em seu Twitter. "Não quer dizer que todos os gays sejam maus, quer dizer que esse personagem é mau e é gay. O politicamente correto virou uma obsessão. Sempre vão arranjar um motivo para dizer que tal obra não deveria ir ao ar por esse ou por aquele motivo", conta. O personagem será vivido por Mateus Solano, mas Walcyr ainda não sabe se o esperado beijo gay será visto desta vez."Estou preocupado com a questão do beijo gay. "Acho que você pode escrever que talvez possa rolar, mas não é algo que esteja planejado. Não como um grande acontecimento. Se rolar vai ser algo totalmente cotidiano, sem bater nos tambores. Tem que ser visto como algo corriqueiro".
De acordo com ele, a sociedade espera que este passo este passo seja dado pela TV. Na condição de funcionário, Walcyr trabalha com o que é possível, mas sabe que comunica a um público pouco conservador. "Travestis são eleitos no interior do Nordeste para deputado, para vereador, em lugares que nunca imaginaríamos. Tenho a impressão é que há grupos conservadores na sociedade que fazem muito barulho porque dão surra, gritam. Existe uma onda de conservadorismo insuflada por algumas igrejas evangélicas".
Sem pensar propositalmente em Feliciano, Walcyr afirma que os religiosos também terão espaço em sua trama. O personagem será da humorista Tatá Werneck. "Tive um tio que era pastor presbiteriano. A minha única tia viva, irmã da minha mãe, é evangélica. Existem dois tipos: o mais tradicional, que costuma ser bem bacana, e o de algumas igrejas radicais, que insuflam e pedem dinheiro. São esses que fazem muito barulho e escândalo", opina.