Na dúvida, Daniel Ortiz resolveu fazer diferente no final da novela "Haja Coração". Diferentemente de "Sassaricando", obra que inspirou essa releitura, e de grande parte da torcida dos telespectadores, que clamava por "Betancinha" nas redes sociais. Depois de ter passado a trama quase toda "divididinha", Tancinha (Mariana Ximenes) decidiu ficar com Apolo (Malvino Salvador) no último capítulo, e a escolha pelo clássico - ou clichê - reflete a dramaturgia que perpassou todo o folhetim.
Desde 1987 o bordão é da feirante despachada que não conseguia decidir com qual dos dois amores devia ficar. Mas o drama de Tancinha vem se repetindo entre as mocinhas e mocinhos, das novelas. Em "Totalmente Demais", história que precedeu "Haja Coração", o público também se dividiu entre "Arliza" e "Joliza". Em "Eta Mundo Bom", Mafalda (Camila Queiroz) viveu o dilema amoroso entre Romeu (Klebber Toledo ) e Zé dos Porcos (Anderson di Rizzi). Bento (Marco Pigossi) ficou entre Malu (Fernanda Vasconcellos) e Amora (Sophie Charlotte)... Exemplos não faltam.
Se por um lado a estratégia funciona para mobilizar o público, por outro tem como consequência a frustração daqueles que querem ver seu casal preferido junto no fim. Como agravante Daniel Ortiz teve que encarar também a torcida por Apolo e Tamara (Cleo Pires), e mesmo assim optou pelo final feliz de Tancinha com o bom moço, o herói que não usou de meios escusos para conquistar seus objetivos. Beto, contudo, foi perdoado pela audiência. O autor, pelo teor dos posts de revolta na web, talvez não conte com a mesma condescendência. Numa tentativa de compensar, Paolla Oliveira - que foi cotada para encarnar Tancinha - apareceu como novo amor do publicitário no fim, e arrasou.
Final em dois últimos capítulos
Na via oposta do triângulo amoroso principal, Shirlei (Sabrina Petraglia) e Felipe (Marcos Pitombo) caíram nas graças do público e foram ganhando ares e espaço de protagonistas. "Shirlipe" teve direito a seu próprio (pen)último capítulo, com casório e felizes para sempre. Quem é noveleiro se divertiu com o desfecho de Jéssica (Karen Junqueira), claramente inspirado na vilã Rubi (Barbara Mori), folhetim mexicano homônimo exibido pelo SBT em 2004. Na trama, a ambiciosa e linda protagonista também chamava a mocinha que tinha defeito na perna de "manca" e também acabou com o rosto desfigurado.
O destino de Fedora (Tatá Werneck) e Leozinho (Gabriel Godoy) também foi bem diferente da primeira versão, e mais politicamente correto. Os dois passaram por transformações de caráter e se tornaram pessoas melhores, tendo seu final feliz na feira. Embora a história dos dois tenha ficado um tanto desconectada do resto em alguns momentos, Tatá e Gabriel têm ótimo jogo cênico e brilharam em boas cenas, principalmente nas poucas que tiveram com dramaticidade em vez do humor. Grace Gianoukas, aliás, é o grande acerto nesse sentido. Teodora foi garantia de risada certa toda vez que aparecia, por mais estapafúrdia que fosse a situação, e merecidamente ganhou um spin-off no Globo Play.
Fernanda Vasconcellos, acabou ficando com a vilã psicopata e segurou bem a personagem, contraponto do casal "Gimila". Foi deles o clássico sequestro de fim de novela, com a diferença de a mocinha Camila (Agatha Moreira) salvando o herói Giovanni (Jayme Matarazzo) da morte. Inversão de papeis que dá um ar renovado à antiga fórmula. E por falar nisso, Mariana Ximenes merece aplausos por sua Tancinha: a atriz estava à vontade e foi feliz no desafio de deixar sua marca. Palmas também para Marisa Orth e João Baldasserini, com ótimas atuações.
As referências a outras tramas e ao próprio gênero também foram divertidas. Neste capítulo final, a capa da revista Totalmente Demais estampada por Leonora Lammar (Ellen Rocche) foi uma grata surpresa. É claro que ainda há muito mais o que dizer, mas haja disposição, para ler, não é mesmo? Fiquem ligados no Facebook do Purepeople e no nosso Papo de Novela, que essa semana o curti/ não curti vai ter mais comentários sobre esse final.
(Por Samyta Nunes)