Silvio Santos está afastado das suas colegas de trabalho desde setembro e vem sendo substituído no seu tradicional programa dominical pela filha Patricia Abravanel. Em meio a rumores de uma aposentadoria, e prestes a ganhar uma cinebiografia, o dono do SBT ganhou uma série, "O Rei da TV", que retrata sua trajetória até fevereiro de 1988, quando o apresentador retorna à TV após um mês ausente para tratar um problema nas cordas vocais.
A produção criada por Marcus Baldini, André Barcinski e Ricardo Grynszpan e estrelada por Guilherme Reis, Mariano Mattos Martins e José Rubens Chachá, trio que se reveza no papel-título, reúne ainda Leona Cavalli (Iris Abravanel), Paulo Nigro (Gugu Liberato), e Roberta Gualda (Maria Aparecida, primeira mulher de Silvio) entre outros.
"O Rei da TV" aborda entre vários fatos da vida de Silvio o seu trabalho como camelô no Rio, a criação do Baú da Felicidade, a passagem pela Globo e a fundação do SBT. Porém, a série divida em oito capítulos apresenta alguns equívocos, e o Purepeople listou alguns deles.
De cara, "O Rei da TV" mostra o "Programa Silvio Santos" sendo aberto pelo "Show de Calouros", com o apresentador jogando aviõezinhos de dinheiro, até perder totalmente a voz, sendo substituído por câmeras escondidas, as tradicionais pegadinhas como "tapa-buraco", uma das atrações do programa.
No júri formado por um quarteto é possível ver a jurada Elke Maravilha, morta em 2016. Depois, na série Gugu ocupa o lugar do "patrão" de sopetão. Acontece que a voz de Silvio nunca sumiu totalmente, ele teve uma grande rouquidão que foi agravando com o passar das semanas; o "Show de Calouros" nos anos 1980 era o último quadro do "PSS" e não contava com câmeras escondidas e tampouco com a distribuição de dinheiro jogado para a plateia.
No começo de 1988, Elke ainda trabalhava na Globo ao lado de Chacrinha, que morreria em junho daquele ano. Já Iris Abravanel surge como se fosse uma diretora do SBT, a ponto de intervir na grade de programação. A hoje autora de novelas só passou a ser funcionária da emissora no final dos anos 2000.
A produção do Star+ mostra também Senor Abravanel usando enquanto camelô o nome de Silvio Santos, que só foi adotado por ele quando o dono do SBT já havia (e vencido) vários concursos para locutor em rádios do Rio. Em relação a Gugu, alguns detalhes em "O Rei da TV" diferem da realidade. O apresentador assinou com a Globo no começo do segundo semestre de 1987 e só viria a comandar programas dominicais no SBT em abril do ano seguinte.
Assim, diferentemente do que ocorre na série, Gugu (1959-2019) não deixou o SBT como "vingança" por Silvio não cumprir uma promessa (entregar a ele o seu domingo durante seu tratamento médico nos EUA). Tampouco, Gugu jamais se encontrou com Roberto Marinho pelo menos até fevereiro de 1988, algo confirmado na época pela assessoria de imprensa da emissora carioca.
O tradicional "Troféu Imprensa" - entregue em junho após hiato de dois anos - também foi envolvido em falhas. Silvio conduziu normalmente a premiação em 1988, referente a 1987; na série, o apresentador é avisado que venceu a estatueta enquanto está no exterior em tratamento médico.
A icônica piada da "mulher, do poste e do bambu", que viralizou no Youtuber não é da época de Silvio na Globo, e ocorreu sim em meados dos anos 1980 no SBT. Aliás, até 1997, os principais programas de auditório da emissora eram gravados em um único teatro e não em um local que abrigava vários estúdios, como sugere "O Rei da TV".
Seja em diálogos ou em cenas, a produção se equivocou ao citar a novela mexicana "Carrossel", o "TJ Brasil" e o "SBT Repórter" como produtos existentes no primeiro semestre de 1988. Acontece que a história da professora Helena só entrou no ar no México em 1989, o noticiário estreou apenas em agosto de 1988, e o programa jornalístico foi criado na década seguinte.
Além disso, Manoel de Nóbrega é apresentado como criador do Baú da Felicidade e que teria sido vítima de uma armação de Silvio quando o dono do SBT assumiu o comando da empresa. Pelos relatos mais repetidos por várias partes, dois alemães criaram o Baú e Silvio salvou Manoel da falência e conseguiu fazer da empresa algo lucrável.
No último episódio da série, Silvio faz um desabafo sobre sua vida e levanta a vontade de entrar para a política ao ser surpreendido pela visita no palco de Hebe Camargo (1929-2012). Naquele dia, 21 de fevereiro de 1988, o apresentador fez justamente o oposto e descartou qualquer intenção de se candidatar a cargo público após anunciar a presença, não de surpresa, de Hebe.