Nome expoente na música, Liniker vive sua primeira protagonista na série "Manhãs de Setembro", da Amazon Prime Video: ela interpreta Cassandra, uma motogirl que também trabalha como cover de Vanusa - cantora que acompanhou parte da produção antes do seu falecimento, em 2020 - na noite paulistana, mas tem sua rotina transformada com a chegada do filho, Gersinho (Gustavo Coelho), trazido por Leide (Karine Teles), com quem ela teve um envolvimento no passado.
Em entrevista ao Purepeople, ela conta mais sobre a estreia e os desafios da personagem. As relações afetivas, em suas múltiplas possibilidades, é o carro-chefe da produção e a construção da relação entre mãe e filho foi especial para Liniker.
"É um assunto complexo pelo fato de a sociedade ser tão transfóbica e de não entender a nossa pluralidade enquanto seres humanas, enquanto pessoas também capazes de criar. A Cassandra é banhada por esse filho que chega dentro dessa trajetória que, a princípio, ela não entendeu... São 10 anos sem saber dessa história. Mas pelo afeto da criança, ela passa a reformular o afeto dela", aponta.
Lançada mundialmente em 25 de junho, a produção chegou à Liniker há mais de 2 anos. "Foi um grande desafio toda a preparação ter sido feita online. A gente está vivendo uma pandemia e os encontros, de fato, precisam ser muito respeitados e protocolados. Comecei minha preparação em 2019, foi de quase um ano e depois comecei a trocar com todos online. A gente só foi se encontrar no aeroporto para filmar", diz sobre a minissérie, com cenas gravadas também no Uruguai.
A atriz pontua também que a presença de Alice Marcone no time de roteirista foi essencial. "Ter a Alice enquanto uma roteirista trans, fez com que o lugar da Cassandra fosse humanizado e legitimado por um ponto de vista que ela não ficasse tão exposta e caricata. Ter uma roteirista que tem a vivência de ser trans, deu uma segurança que a Cassandra não estaria exposta dramaturgicamente", destaca.
Liniker ainda pontua sobre a dificuldade do afeto romântico e sexual para pessoas trans. "Eu tenho a esperança de poder caminhar sobre outro viés, seja construindo esse imaginário e essa bolha de carinho dentro das redes afetivas que viram nossas famílias, seja legitimando e replicando esse amor que a gente vê replicado na cisgeneridade e em outras frentes do meio LBGTQIA+, como o fato de muitos homens gays namorarem muito mais do que pessoas trans namoram", afirma.
Para ela, um dos pontos fortes da produção é o fato de Cassandra e Leide serem, sobretudo, sonhadoras. "Por mais marginalizadas que as duas estejam, elas não deixam de sonhar, têm muita esperança. Seja a Cassandra querendo constituir uma família, ter uma casa, seja a Leide criando o menino da melhor forma que ela pode", compara. Para ver mais sobre "Manhãs de Setembro", confira a galeria de fotos acima!