É uma missão quase impossível não se encantar com a doce Pituca (Getsa Garcia) de "Meu Pedacinho de Chão". E na primeira versão da novela, exibida em 1971, não foi diferente! O público também se encantou por Patrícia Ayres, a linda loirinha que dava vida a personagem. O Purepeople encontrou o paradeiro da menina, que hoje é uma mulher de 51 anos e não quer saber de fama.
"Quando vejo as chamadas da versão antiga da novela sinto até um tremor. Tomei horror a tudo isso!", revela Patrícia, que por vontade própria decidiu colocar um ponto final na precoce carreira de atriz aos 9 anos de idade.
Após desistir de atuar, ela se dedicou aos estudos e se formou pedagoga. Há um ano resolveu dar uma guinada na vida: se separou, se mudou de Caraguatatuba (no interior de São Paulo) para capital e se tornou quituteira. Hoje é dona da Patysserie, especializada em produtos funcionais.
"Sempre fui natureba, aventureira e prezo muito pela minha liberdade. Não me imagino sem privacidade. Talvez tenha sido trauma do que vivi na infância. Na época virei uma espécie de aberração. Na escola, eu tinha o recreio separado das outras crianças por causa do assédio e, quando Pituca começou a fazer milagres na trama, as pessoas achavam que eu podia curá-las", relembra.
Menina de Ouro
Em 1968, ela começou a atuar por um acaso. O pai, o ator Percy Aires (morto em 1982), ofereceu a filha, na época com três anos, para fazer uma ponta na novela "O Direito dos Filhos", exibida pela extinta TV Excelsior. "Precisavam de uma menina para morrer nos braços do Sérgio Cardoso e lembraram de mim. Acharam que eu morri tão bem que resolveram me ressuscitar. Risos", conta Patrícia, O diretor disse 'como podemos fazer uma coisinha tão linda dessas morrer?'. Daí fiquei a trama inteira", conta Patrícia, que virou xodó da protagonista da trama, Leila Diniz.
Mas a estreia de Patrícia não foi assim tão fácil. Praticamente um bebê, ela ficava assustada com as câmeras e agitação no set. "Uma vez disse que queria a minha chupeta. Eles pararam tudo e disseram que mandariam buscar uma de ouro. Eu disse, então, que queria uma de borracha mesmo", diverte-se, relembrando que não era comum a participação de crianças em telenovelas.
Ainda na TV Excelsior, a estrela mirim fez as novelas "Vingança dos Judeus", "A Menina do Veleiro Azul" e protagonizou o grande sucesso "A Pequena Orfã". Na trama, ela vivia Maria Clara, ou Toquinho, abandonada pela mãe e que sofria nas mãos da malvada Elza, dona do orfanato onde vivia. Em uma de suas fugas do local, a menina conhece o bondoso Velho Gui, interpretado por Dionísio Azevedo, que também dirigia a novela.
Na época, aos 5 anos, Patrícia começou a apresentar problemas comportamentais e de saúde e teve que sair antes do final da trama. Para resolver o impasse, o autor contratou a goiana Marize Ney, que três anos mais velha. O autor, então, consertou o impasse com uma passagem de tempo.
"Eu era tratada como rainha. A novela foi escrita para eu fazer. Quando eu não estava bem, mandavam buscar picolé de uva pra mim... Eu ficava feliz, mas sofria muito com tudo aquilo. Não conseguia separar o que era realidade da ficção", confessa a ex-atriz.
Carreira Curta
Aos 7 anos, Patrícia recebeu o convite de Benedito Ruy Barbosa para viver Pituca em "Meu Pedacinho de Chão", exibida pela TV Globo e TV Cultura. "Eu morria de medo do Epaminondas (o pai da personagem interpretado na época pelo Castro Gonzaga). A Leila Diniz".
Requisitadíssima, a menina virou uma estrela da TV e queridinha dos comerciais. Ela chegou a ser garota-propaganda de uma famosa marca de chocolates. "Descobriram que eu era apaixonada pelo doce e me chamaram. Toda semana chegavam cestas e mais cestas com vários chocolates. Disso sim eu tenho saudade", brinca.
Em 1973, Patrícia encerrou a carreira na TV interpretando Nina Rosa, em "Rosa dos Ventos" e fazendo um remake de "A Pequena Orfã" para o cinema. "Não sinto falta de ser reconhecida. Foi uma época muita boa, de muito carinho, paparico... Mas prefiro a minha vida agora! Brinco com os meus amigos dizendo que só voltaria para TV se fosse para apresentar um programa sobre vida saudável e alimentação funcional", afirma.
(Por Renata Mendonça)