O Carnaval de 2020 do Grupo Especial do Rio de Janeiro começou surpreendente na Marquês de Sapucaí, neste domingo (23). As rainhas de bateria, responsáveis por dar um brilho à parte nos desfiles das escolas de samba, como a estreante Iza pela Imperatriz Leopoldinense na Série A, inovam a cada ano. Evelyn Bastos , a toda poderosa da verde e rosa, campeã de 2019, surgiu vestida com a fantasia de Jesus Cristo na versão Mulher. Sem decotes e corpo à mostra, a rainha também abriu mão do samba no pé este ano e fez uma interpretação emocionante para o público.
"Uma rainha de bateria pode mais que só sambar. É um personagem importante e muitas vezes desmerecido. A ideia de que a rainha de bateria é uma gostosa que tem que vir seminua à frente é uma coisa já ultrapassada", justifica Leandro Vieira, carnavalesco da Mangueira, que teve o enredo "A Verdade Vos Fará Livre". Viviane Araujo voltou a brilhar no seu reinado à frente do Salgueiro que já dura 12 anos consecutivos.
Assim como nos desfiles das escolas de São Paulo em que rainhas com Sabrina Sato estão optando por fantasias conscientes - sem penas de animais -, na Viradouro, cujo enredo foi "Viradouro de alma lavada", Raissa Machado faz coro à iniciativa: "Meus faisões são artificiais. Tenho 1300 penas artificiais feitas de seda e o arame é de guarda-chuva, uma ideia genial do atelier do Henrique Filho. É incrível! Desde o ano passado eu busquei isso, de não usar nada. Eu usei capim tingido e esse ano eu vim com faisões falsos". Paolla Oliveira, de volta ao disputado posto pela Grande Rio após 10 anos, exibiu que sua fantasia não tivesse penas. O resultado? Uma Cleópatra poderosa que brilhou na Avenida com uma capa e conjunto com detalhes em pedras e metal. As estreantes no posto de rainha de bateria das escolas de samba Unidos de Vila Isabel, Aline Riscado substituindo Sabrina Sato, e Unidos da Tijuca, com uma emocionada Lexa, também abriram mão das penas nas fantasias no segundo dia de desfiles.
Conhecida pela dedicação ao corpo para brilhar no Carnaval, Gracyanne Barbosa exibiu o shape musculoso na fantasia pela União da Ilha. Já a estreante da Paraíso do Tuiuti, Livia Andrade, afirmou estar há dois anos sem malhar, defende que cada mulher tem o seu estilo e que não deve ser cobrada para estar com um corpo padrão nos desfiles.
"Eu acho que esse negócio para fazer algo para o carnaval eu tô fora. Já têm muitos anos que eu não faço isso, estou há dois anos sem malhar e eu quero malhar quando eu estiver em paz, com vontade. No carnaval é quando você tem menos tempo de fazer coisas. Se eu aceitei esse cargo de rainha de bateria, a minha obrigação é estar presente nos ensaios, com o pé machucado, cansada e sem dormir. Essa é a troca. Carnaval não tem que ser uma exibição de quem tem o corpo mais bonito. Quem tem que brilhar é a escola. Se você está em paz com você e a fantasia que te deram tá ok pra você, é isso!".
Empresária do setor têxtil, Jack Maia, de 37 anos, começou a se familiarizar com carnaval em 2009, mas a porta de entrada foi pelo barracão. O ex-marido era militar e por este motivo viajava muito. Nessa época, Jack começou a frequentar a quadra para ajudar na confecção das fantasias. "Desde então eu não parei mais de desfilar. Desfilei como rainha de bateria da Acadêmicos de Santa Cruz (da série A) durante 7 anos. Em 2018 e cheguei à Estácio e recebi o convite para ser musa da escola. E hoje estou dando todo o meu amor pela escola que mudou a minha história no carnaval".
(Com apuração de Rahabe Barros)