E no fim a mocinha ficou com o sapo em vez de com o príncipe, para frustração de praticamente metade do público da novela "Totalmente Demais", que torcia por 'Arliza', o casal que Eliza (Marina Ruy Barbosa) formava com Arthur (Fábio Assunção). Como todo desfecho clássico de conto de fadas, o último capítulo, que tinha como grande surpresa a revelação de com quem a modelo teria seu final feliz, foi - assim como toda a trama - bastante comovente e muito bem executado, desde a dramaturgia à direção e atuações. A cereja do bolo ficou por conta da bela cena de Max (Pablo Sanábio), superando o trauma da violência homofóbica.
É difícil ver uma novela tão redondinha como foi "Totalmente Demais". Desde o início, a transformação - palavra que foi a pedra fundamental da história - esteve presente em vários aspectos, principalmente nos processos dos personagens. A saga de uma espécie de cinderela dos tempos modernos, com um toque de Catarina do Shakespeare, que se torna uma modelo internacional com dramas da mulher contemporânea deu muito certo. O capítulo final só veio coroar o sucesso da obra, que já havia conquistado o público há tempos.
Mais ainda que Roque Santeiro, novela exibida há mais de 30 anos, a trama de Rosane Svartman e Paulo Halm teve referências diretas a Casablanca (e de outros clássicos do cinema) e também dividiu as opiniões. Diferentemente da mocinha do longa, em 1986 Porcina (Regina Duarte) decidiu ficar em vez de ir, e agora em 2016 é o herói quem vai com ela para viver o sonho em Paris. "Nós sempre teremos Paris", disse Arthur quando abriu mão da ruiva, no gesto de maior altruísmo de sua vida, sinal máximo da como o personagem se transformou ao longo da história. Talvez, para quem torceu para vê-lo com Eliza no final, um consolo seja ver nesse gesto a prova de que o amor dele é tão grande e forte o bastante para colocar a felicidade da amada em primeiro lugar.
Carolina, os vilões e os coadjuvantes que brilharam
Apesar de ter sido a antagonista de Eliza, às vezes com ares de vilã, Carolina foi a personagem mais humanizada e não maniqueísta de "Totalmente Demais". Uma mulher de seu tempo, com sucesso na carreira, almejando realizar o sonho de ser mãe, que foi errando e decaindo à medida que a protagonista ascendia em sua trajetória. Cheia de nuances, a jornalista não era só má nem só boa, tinha uma relação extremamente verossímil com a irmã e com o trabalho. Além da personagem primorosamente desenhada por Rosane Svartman e Paulo Halm, o trabalho e carisma de Juliana Paes e, claro, a direção inspirada de Luiz Henrique Rios (e Dayse Amaral Dias, assistente) merecem os parabéns. E que bom que ela também teve seu final feliz!
Falando em vilões, outro grande mérito dessa novela foi o revesamento de vilões. Começamos com Dino, depois veio Jacaré, então Carol assumiu um pouco o posto, com as armações durante o concurso, aí Dino reapareceu e voltou a sumir. Quando tudo parecia estar bem eis que Sofia ressurge literalmente dos mortos para infernizar a mocinha e traz com ela Jacaré de volta ao jogo. Após a segunda morte da psicopata, Carolina destila sua última gota de veneno e parte para a redenção, para em seguida o padrasto abusador aparecer para o gran finale. Foram reviravoltas uma atrás da outra, deixando o público de queixo caído e coração saltando no peito. Um "lacre" após o outro, como dizem sempre nas rede sociais. E bingo! A receita da ação com romance funcionou.
Outro elemento importantíssimo para esse sucesso foram os coadjuvantes. Os carismáticos Max (Pablo Sanábio), Cassandra (Juliana Paiva ), principalmente, caíram no gosto do povo - palmas para os atores. Mas também Malu Galli, Vivianne Pasmanter, Marat Descartes e muitos outros merecem ser lembrados. Além deles, a abordagem de temas tão relevantes atualmente como abuso sexual, homofobia, feminismo, adoção de crianças soropositivas, racismo... Tudo isso fez de totalmente demais uma grande novela. Um trabalho exemplar de equipe, desde os autores, passando pelo elenco, direção, figurino, caracterização, direção de arte (da incrível Eugênia Maakaroun)... Foram todos totalmente demais! Que bom que tem o spin-off de dez capítulos na web para aplacar a nostalgia que já está batendo.
(Por Samyta Nunes)