O frio na barriga de quem está prestes a embarcar numa viagem para um mundo desconhecido é a metáfora perfeita para a estreia da novela "Novo Mundo". Como é a primeira trama que Thereza Falcão e Alessandro Marson, até então colaboradores, assinam como autores, a história de amor e aventura de Anna Millman (Isabelle Drummond) e Joaquim Martinho (Chay Suede) não tem nenhuma predecessora como referência e se apresenta envolta em ares de novidade. Mas para além das boas atuações (e sotaques!) e de todos os detalhes impressionantes de uma superprodução, o tom de humor das cenas arrancou risadas e foi a estrela deste primeiro capítulo.
Na pele de Joaquim e Elvira, atores de uma companhia de comedia dell'arte (forma de teatro popular da época), Chay Suede e Ingrid Guimarães roubaram - quase que literalmente - a cena. É facilmente perceptível que o jogo entre os dois funciona e está no tom e timing certo. Vestido com o figurino do personagem de Joaquim, Chay trouxe movimentos corporais e tom de fala do clássico arlequim, assim como Ingrid incorporou a primeira atriz da companhia com ares de megera trambiqueira. A parceria dos dois parecia um balé, principalmente nos momentos de perseguição e fuga. Diferentemente do que acontece no pastelão, a risada da plateia acontece pelo perfeito encadeamento da dramaturgia, direção e atuações; e não só pelo exagero. Merecem reverências.
Portugueses, ingleses, austríacos, tupiniquins... São várias as nacionalidades presentes na nova novela das seis, e consequentemente, muitos sotaques também. Nesse quesito Letícia Colin merece palmas lentas pelo ótimo trabalho de prosódia: o português carregado de sotaque de sua Princesa Leopoldina está perfeito. E além disso a atriz demonstra segurança na personagem, que é carismática e tem um entusiasmo contagiante. Já Isabelle Drummond foi mais comedida pois Anna, sendo professora de português da princesa, deixa transparecer entonações muito sutis da língua inglesa em sua fala. Ainda assim seu sotaque é mais perceptível que em Thomas (Gabriel Braga Nunes), que em raríssimas cenas insinuou um ou outro sinal de que seu personagem é inglês. Ingrid Guimarães, Caio Castro e o núcleo português também estão bastante convincentes no "ora pois".
Já testados como casal na primeira fase de "A Lei do Amor", Chay e Isabelle atendem ao pedido velado de "quero mais" que ficou no fim da primeira fase da novela das nove. Desde o momento em que se apaixonam à primeira vista até o reencontro no navio, no fim da última cena, a química entre os dois é evidente e magnetizante. Não há como não torcer para que Anna e Joaquim fiquem juntos, eles já parecem feitos um para o outro. O triângulo amoroso (talvez o mais famoso da história do Brasil) vai ficar por conta de Dom Pedro (Caio Castro), que se casa com Leopoldina mas vai viver um romance com Domitila (Agatha Moreira), que ainda não entrou na trama.
Os dois "novatos" como autores principais já têm motivo para comemorar: pela repercussão nas redes sociais durante a exibição do primeiro capítulo, o público está empolgado com a estreia, pois não faltaram elogios. Com essa estreia, "Novo Mundo" promete ser um grande sucesso do horário. Uma novela nova, como disse o diretor Vinícius Coimbra no especial exibido após o capítulo final de "Sol Nascente", englobando os sentidos de inovação e renovação da teledramaturgia do horário. Apesar de ser de época, ambientada num período histórico de 200 anos atrás, o texto traz expressões da atualidade, que criam identificação. Seduzidos, embarcamos juntos nessa aventura, esperando que toda essa expectativa criada seja não só correspondida como superada nas cenas dos próximos capítulos.
(Por Samyta Nunes)