Quando pensamos no estilo de mulheres muçulmanas, logo imaginamos vestimentas próprias da religião como véus e burcas, mas poucos sabem que, por baixo dessas peças, existem fashionistas que estão atualizadas de tudo que há de mais luxuoso no mundo da moda. Foi isso que Vincenzo Visciglia, arquiteto e estilista brasileiro, descobriu quando criou uma das principais marcas de alta costura do Oriente Médio e foi eleito uma das personalidades mais influentes do Emirados Árabes em 2018 por uma das publicações mais prestigiadas da região, a "Ahlan!". Natural de Tatuí, interior de São Paulo, o estilista conta com exclusividade para o Purepeople como é vestir as irmãs Abdel Aziz, consideradas as Kardashians muçulmanas, e quais famosas brasileiras lhe despertam interesse para uma parceria futura.
Após se formar em Miami, Vincenzo foi encontrar um amigo que estava trabalhando em Dubai. "Fui visitá-lo e ver como funcionava a arquitetura lá. Fui com 300 dólares no bolso e uma mala para passar o fim de semana", diz o estilista ao acrescentar: "Visitando o escritório, acabei sendo abordado por um dos chefes, que ficou curioso sobre meu trabalho de arquiteto. O que era só um fim de semana se tornou meses e praticamente até hoje não voltei para buscar minha mudança." A ideia de se jogar na indústria da moda veio um pouco depois em 2014, junto com o engenheiro civil libanês Ahmad Ammar. "Entre nossos trabalhos de arquitetura e engenharia, saiu a ideia de fazer uma marca de roupas baseada nas nossas ferramentas de arquitetura, usando o que dominamos e aplicando na moda", aponta o brasileiro ao continuar: "No começo era uma ideia de camisetas masculinas descoladas, mas é engraçado que isso nunca chegou a se concretizar. Usando as ferramentas de construção digital chegamos a conclusão de que podíamos fazer 'arquitetura para o corpo'."
A grife luxuosa líbano-brasileira fez sucesso pela sua proposta diferenciada. "Acreditamos que nossa marca ia se diferenciar ao trazer uma proposta completamente fora do que estão acostumados", opina o arquiteto. Quando são da coleção ready-to-wear, os vestidos começam na casa dos 7 mil euros, mas podem ultrapassar os 60 mil euros quando são feitos sob medida. "As mulheres árabes não querem saber de preços baixos, pois é pelo valor que avaliam a qualidade e medem o grau de exclusividade das peças que estão comprando", comenta o estilista ao concluir: "Criamos a alta costura para o dia a dia. O mais importante é que a mulher precisa se sentir bem consigo mesma e com suas crenças." Assim como Virgil Abloh, Vincenzo apostou na exclusividade de suas criações, o que é levado muito a sério pelas mulheres da região, já que em alguns casos elas não contam nem o nome da marca que estão usando para ter peças únicas. Mas o desafio de ter que associar moda com religião chama a atenção: "Algumas têm que cobrir os ombros, ou vestirem peças mais largas para não mostrar a forma do corpo, mas também temos que pensar nas mulheres mais modernas que, nos eventos só para elas, usam decotes e fendas sem problema nenhum." Em muitos casos, os estilistas não podem nem mesmo tirar as medidas das clientes: "Não podemos vê-las sem os véus, então uma de nossas costureiras tira as medidas e realiza os ajustes. Não vemos o resultado final nelas."
Além de serem responsáveis pelos looks das irmãs Abdel Aziz, os sócios escolheram a modelo Rhea Jacobs como embaixadora da grife. "Ela parece uma boneca de porcelana e tem uma personalidade muito linda. É super conservadora, mas ao mesmo tempo fashion. Para ela sempre fazemos looks mais dramáticos e menos reveladores, devido o mercado que ela se encaixou que é o de beleza", explica o arquiteto ao revelar o estilo das Kardashians muçulmanas: "Elas são mais ícones de moda e com elas já usamos todos os looks high fashion. Adoram mostrar o corpo e, quanto mais ousados, mais ficam à vontade. Elas têm um gosto bem parecido e são muito modernas." Apesar de ainda não ter chegado no Brasil, Vincenzo demonstra interesse em trazer suas criações para sua terra natal e vestir algumas brasileiras. "Estamos estudando a entrada da marca no Brasil, mas vamos adaptar para o mercado na questão socio-ecônomica e editar as coleções", esclarece o estilita ao citar nomes de famosas que gostaria de trabalhar: "Acredito que Marina Ruy Barbosa, Bruna Marquezine, Camila Queiroz, Grazi Massafera, Sophie Charlotte, Sabrina Sato e outras."
(Por Fernanda Casagrande)