Simone e Simaria viveram uma separação polêmica na parceria musical, mas este não foi o principal desafio na vida das irmãs: elas ainda lutam para dar um enterro digno ao pai, o senhor Antônio, falecido há 28 anos e enterrado como indigente.
Nascidas em Uibaí, cidade da Bahia localizada a 7 horas de Salvador, Simone e Simaria se mudaram, ainda muito novas, para Juína, região de garimpo localizada no Mato Grosso. "A gente não tinha nada. Nós morávamos em uma casa de tábua no meio do Garimpo do Arroz. Um lugar muito perigoso e todo dia a gente via pessoas mortas. Nosso pai estava ali tentando achar uma pedra. Aquele sonho de nordestino de achar uma pedra e salvar a família", contou a irmã mais velha, em entrevista à rádio FM O Dia.
Muito apegado aos filhos, foi Antônio quem percebeu nas irmãs o dom de cantar. "Ele colocava os dois 'sabiazinhos' lá e: 'vai, canta"!, relembra Simone, em entrevista ao "Lady Light". Simaria ainda conta que o pai profetizou que ela seria uma cantora de sucesso. "Já era um cara visionário", brincou.
Em junho de 1994, a poucos dias do aniversário de Simaria, um infarto tirou a vida de Antônio, aos 44 anos. Foi a filha quem encontrou o corpo do pai falecido no banho. "Ele foi tomar banho e minha mãe chamou. Meu pai era assim: quando você chamava, ele atendia logo. Ele não respondeu e quando eu fui ver, ele estava deitado no chão. Lembro até hoje. A água caindo nos pés, como se tivesse sentido alguma dor", contou a cantora, à FM O Dia.
Antônio foi enterrado como indigente por conta das baixas condições financeiras da família. Foi, também, a falta de dinheiro que separou a matriarca, Mara Mendes, dos filhos Simaria, Simone e Caio durante anos. Na época, ela lavava roupas em um rio para complementar a renda da família.
Para retornar à Bahia, os quatro recorreram a caronas no meio da estrada. "Nós tínhamos que pegar carona no carro dos outros, pegando cinco dias de poeira com ela aos 33 anos chorando com três filhos pequenos em cima do carro", relatou Simone, ao "Domingão com Huck".
Mara foi para São Paulo trabalhar, enquanto Simaria, Simone e Caio permaneceram na Bahia sob os cuidados de familiares. Foram três anos sem ver os filhos até que a avó os trouxe para a capital paulista.
No entanto, bem na época em que os filhos estavam a caminho de São Paulo, Mara foi demitida do restaurante em que estava trabalhando. Pouco tempo depois, Simaria conseguiu um emprego na banda de Frank Aguiar - e o resto é a história de uma das duplas mais bem sucedidas dos últimos tempos. "Elas começaram a cantar com ele. E as coisas foram melhorando. Mas foi muita coisa difícil que a gente passou", relembra a matriarca.
Já na década de 2010, Simone e Simaria se tornaram uma das duplas mais requisitadas do país e passaram a figurar entre os maiores cachês do sertanejo. Com isso, as artistas passaram a usar parte desse dinheiro para uma missão difícil, porém, significativa: acionar a Justiça para achar o corpo do pai enterrado como indigente e dar um enterro digno para ele.
Em 2016, Simaria revelou que havia ocorrido a exumação de dois corpos, mas nenhum dos restos mortais pertenciam a Antônio. Outra coisa que dificultou ainda mais o processo foi uma enxurrada, que levou muitas das covas embora.
O assunto levou Simone e Simara a um choro intenso durante participação no programa "Conversa com Bial", em 2017. "Eu disse: 'Quando eu fizer sucesso, pode custar o dinheiro que for, eu venho te tirar desse lugar'. Eu prometi, disse para ele que ia buscá-lo", disse a cantora mais velha.
A história de vida das "coleguinhas mais amadas do Brasil" dá um belíssimo enredo de filme, projeto este que elas admitiram que tinham, meses antes do polêmico encerramento da dupla. "Vocês podem ter certeza que vai ser um filme pra vocês se emocionarem muito. Vocês vão rir muito, porque tem coisas que nós somos muito 'sem futuro' no sentido de ser engraçadas, mas é uma história incrível de vida. É uma história que tem muitos detalhes. Mas a coisa especial disso tudo é ver nós aqui e ver que a mão de Deus foi incrível sobre nós", pontuou Simone.