Glória Perez é uma das autoras de novela mais respeitadas do Brasil. Vencedora do Emmy Internacional de Melhor Telenovela com "Caminho das Índias", em 2009, Glória deu uma entrevista ao colunista Leo Dias, do jornal "O Dia", neste domingo (12), rebatendo as críticas que a novela das nove "Salve Jorge" recebe continuamente.
"Isso (críticas) é de praxe: é o preço que a gente paga quando ousa e inova, quando traz para o cotidiano das pessoas questões atuais que ainda não estão claramente percebidas, como barriga de aluguel, imigração ilegal, clonagem humana, internet, tráfico de pessoas etc. Por incrível que pareça, durante essas novelas, tudo isso foi atribuído à minha imaginação delirante! No começo, me surpreendi com o nível de desinformação, depois achei graça. E continuo achando", disse.
A novelista também comenta a dificuldade de se desprender emocionalmente de um trabalho que levou e tomou tanto tempo e dedicação, já que a novela está prestes a terminar. "Sempre bate (um vazio). Você fica tanto tempo convivendo com aquele universo ficcional, envolvida em histórias de vida que não são a sua e, de repente, todos somem de uma vez. As personagens ficam como alguém com quem você conviveu e compartilhou muitas coisas".
Sobre a protagonista, Nanda Costa, e a personagem moradora de favela, Glória Perez acha que foi um grande acerto. Ela não teve medo de inovar. "Nenhum (medo)! Mesmo sabendo que isso iria mexer com tantos preconceitos, como mexeu! Ainda mais tendo uma atriz do porte da Nanda para defender a personagem. Nanda nunca foi uma 'aposta' para mim: sempre considerei um tiro certo! E foi mesmo!", afirmou.
A autora também comentou o considerado "falta de realismo" e os erros de continuidade da novela, muito criticados nas redes sociais pelos telespectadores. "Ficção não é reportagem: é ficção. E novela é folhetim. O folhetim, por exigência do gênero - quem conhece literatura sabe disso - tem como característica sacrificar a coerência pelo sensacionalismo, e utilizar uma quantidade de clichês e ganchos que seriam pecado num outro formato, como uma minissérie ou um filme. Quem reclama disso não sabe do que está falando: é a mesma coisa que criticar um soneto porque tem rima! Logo, não dá para levar a sério".
Com o fim da trama, Glória se prepara para tirar férias pela Europa e Estados Unidos. Ela também faz um balanço da performance dos atores que escolheu, afirmando que não se decepcionou. "Os bons atores sempre te surpreendem! Não vou citar nomes para não ser injusta, mas não tive nenhuma decepção", comentou. Sobre a química entre Helô (Giovanna Antonelli) e Stenio (Alexandre Nero) - um dos casais de maior sucesso na trama -, ela é taxativa: "Percebi na primeira cena dos dois. Química é química, não se explica".