A expectativa era pela revelação de quem matou Murilo (Bruno Gagliasso), mas eis que a novela "Babilônia" entrega um capítulo final surpreendente. Otávio (Herson Capri), que já havia protagonizado duas reviravoltas na trama, se revelou o misterioso assassino do cafetão. E o fim trágico de Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Gloria Pires) se concretizou. Porém, os beijos de Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg); Ivan (Marcello Melo Jr) e Sérgio (Claudio Lins) foram o ponto alto do desfecho. Os autores, equipe e elenco mandando literalmente beijos à rejeição do conservadores, depois de ter sido rotulada de grande fiasco.
Polêmica talvez seja a palavra que define melhor o que foi a trajetória de "Babilônia". Com toda a expectavia criada pelas chamadas antes da estreia, o trio de autores renomados e o elenco de peso, a primeira semana da novela causou forte um impacto, mas desencadeou uma derrocada na trama. Ousada, a história trouxe uma vilã devoradora de homens, um casal de lésbicas na terceira idade, a mocinha marrenta e de temperamento explosivo e uma pobre menina rica que seria aliciada para a prostituição pelo namorado cafetão.
O beijo de Estela e Teresa no já primeiro capítulo, a liberdade sexual de Beatriz e a marra de Regina (Camila Pitanga) dividiram o público. Enquanto questão homoafetiva sendo abordada agradava a uma parte dos telespectadores, os conservadores reagiram com rejeição e então vieram alterações que enfraqueceram a história. "Babilônia" acabou por não agradar nem a gregos, nem a troianos durante algum tempo. E Gilberto Braga amargou a humilhação, segundo palavras dele, de perder na audiência para "I Love Paraisópolis".
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Com os números baixos veio a supervisão de Silvio de Abreu. Acelera daqui, corta dali, muda acolá... E a novela que era revolucionária e impactante, foi se ajustando e perdendo a força. A essa altura já tinha sido tomada como Judas e estava condenada a ser sistematicamente "malhada" nas redes sociais e continuar a batalha para alavancar os números. Ainda assim e apesar das alterações, a crítica social sempre continuou, nas falas preconceituosas da família do prefeito, nos discursos de Rafael (Chay Suede) e Laís (Luisa Arraes), em em diálogos que perpassavam quase todos os núcleos.
Até que os autores resolveram investir no "quem matou", que é uma espécie de marca registrada de Gilberto Braga. Juntamente com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, claro, e insere uma pegada policial na história e a partir da morte de Murilo a trama recupera o fôlego, esquentando novamente. No embalo ágil e instigante da reta final, tudo culmina num final eletrizante, com a surpresa da morte forjada de Otávio, a foto que o revelou assassino de Murilo e as vilãs duplamente punidas: com a prisão e a morte. "Juntas até o inferno", como prometido no primeiro capítulo.
A curva dramática que a novela faz, trazendo um capítulo final com a mesma dinâmica e ousadia do primeiro é a cereja do bolo. "Babilônia" sofreu rejeição sim e com isso vieram problemas, mas se reergueu. Talvez para muitos será lembrada como a pior novela de todos os tempos. Mas para outros será uma obra de grande importância pelas questões que levantou, e que fui punida com rejeição pelo pecado da ousadia. Mas mesmo assim reafirmou sua resistência e coragem nos momentos finais, deixando claro, com três beijos, que não está disposta a abaixar a cabeça definitivamente.
(Por Samyta Nunes)