E no fim, Marina (Alice Wegmann) e Isabela eram de fato a mesma pessoa, como todos imaginavam, na novela "A Lei do Amor". O último capítulo da trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari surpreendeu não pela revelação do mistério em torno da sósia da garçonete, mas sim por uma cena bem curta que tocou no assunto do dia: assédio sexual. Entre pontos positivos e negativos, o folhetim fez um bom desfecho, com direito a homenagem para o Vale do Rio Doce. Porém, caracterização dos atores para o período após a passagem de tempo deu a impressão de rejuvenescimento.
Foi um capítulo corrido. Com blocos pequenos e muita trama para desenrolar, as cenas ganharam dinâmica e no início a sensação era de que tudo estava acontecendo ao mesmo tempo, agora. Helô (Claudia Abreu) sendo salva, o parto, o transplante, a fuga de Mág (Vera Holtz) e seu suicídio, o AVC de Tião (José Mayer)... O ritmo era de um trem desgovernado, com o perdão do trocadilho. Por outro lado, não faltou emoção, foi de assistir com o coração na boca, palpitando.
Para o final feliz do casal protagonista, perdão. Helô deixou para trás a traição de Pedro (Reynaldo Gianecchini) em uma cena comovente do capítulo, mostrando que o amor falou mais alto. Com um filho de cinco anos e ainda apaixonados como na juventude, os dois fecharam a história reproduzindo momentos românticos do casal na primeira fase da trama, deixando a mensagem de que o fim pode ser sempre um (re)começo. Só que a caracterização deles causou um estranhamento, pois os cabelos longos de Helô e Letícia e o visual sem barba de Pedro os deixou parecendo mais jovens.
Mesmo com três finais gravados, Maria Adelaide e Vincent optaram pela solução mais simples e, talvez, viável. Ok, assim como o finado Élio (João Campos), todos achávamos que Marina era uma personagem criada por Isabela para se vingar. Os autores preferiram não arriscar, mas alguns pontos desse plano ficaram sem explicação, com fios soltos.
Apesar de indefinido, o desfecho da relação entre Tiago e Isabela ficou apontado na reencontro e troca de olhares, cinco anos depois do acerto de contas na lancha (que lembrou o assassinato de Alex (Rodrigo Lombardi) em "Verdades Secretas" em alguns momentos). Assim como a dupla de autores fez com Bento (Marco Pigossi) e Amora (Sophie Charlotte) em "Sangue Bom", o casal deu a entender que a paixão prevaleceu ao tempo. Dramaturgicamente é um recurso interessante, que foge do padrão "e foram felizes para sempre", o que seria um clichê um tanto forçado para um casal tão controverso. Fica a pergunta no ar: será que eles vão conseguir se entender depois de tudo que viveram?
Não só no capítulo final, como em toda a trama, o destaque é de Luciane (Grazi Massafera). A atriz estava mais do que à vontade no papel, esteve sempre segura e muito inspirada. Despachada e sempre muito franca, a ex-garota de programa que sonhava em ser primeira -dama de São Dimas passeou por vários núcleos levando humor e arrancando risadas, sem deixar cair a peteca nas cenas dramáticas, como na morte do sogro e outros momentos. Sem dúvida nenhuma a melhor personagem.
"A Lei do Amor" teve uma primeira fase que impressionou muito, depois precisou rearranjar a história para alavancar a audiência, sofreu críticas e foi seguindo, com muitas reviravoltas no melhor estilo novelão. Muitos vilões, várias mortes inesperadas, cenas fortes e não raro melodramáticas. Entretanto, não se pode negar a habilidade dos autores e da direção nessa trajetória. Uma prova disso foi colocar neste último capítulo um diálogo entre Laura (Heloisa Jorge) e Jáder (Érico Brás) em que o enfermeiro a elogia e ela avisa que pode considerar assédio. Se foi por coincidência, por deboche ou por posicionamento em relação à acusação de assédio negada José Mayer nesta sexta-feira (31), é difícil dizer, pois a cena dá margem à muitas interpretações. Mas se não foi coincidência, foi sagacidade.
(Por Samyta Nunes)