Muitas gerações se divertiram com o elenco do seriado "Chaves", gravado nos anos 1970, no México. Entre tantos personagens inesquecíveis está Chiquinha, a menina sardenta e implicante, moradora da vila. E a atriz que dá vida à filha do Seu Madruga é Maria Antonieta de Las Nieves, que vem ao Brasil pela primeira vez para duas apresentações de sua turnê "Fijate, fijate, fijate!", que é o tradicional bordão da personagem no seriado "Pois é, pois é, pois é", em português.
"Às vezes, sinto que não aguento mais e penso em deixar de fazer shows. Afinal, não tenho mais 20 anos de idade. Mas, no dia seguinte, vejo o vestido da Chiquinha e lembro que essa é a vida que eu amo. Nunca vou abandoná-la", afirmou a atriz em entrevista à revista "Veja". Maria Antonieta começou a interpretar Chiquinha aos 18 anos e hoje, com 62, ainda faz shows como a personagem. Os fãs cariocas podem conferir a apresentação no Espaço Rampa, em Botafogo, no dia 8. Já os paulistas vão ao show no Carioca Club, em São Paulo, no dia 10.
O primeiro trabalho da atriz ao lado de Roberto Bolaños foi no programa "Los Supergenios de La Mesa Cuadrada", em 1968. Além dela, os atores Rubén Aguirre e Ramón Valdés, o Professor Girafales e o Seu Madruga, respectivamente. No mesmo ano, o grupo começou na série "Chespirito", de 1968, escrito por Bolaños. Em 1970, nasceu "Chapolin" e, um ano depois, "Chaves".
No Brasil, o sucesso como Chiquinha começou em 1984, quando o seriado passou a ser exibido no programa "TV Pown", do SBT, onde é exibido até hoje. Maria Antonieta de Las Nieves não consegue explicar o sucesso da atração: "É um milagre, é difícil um seriado durar tanto tempo no ar. O roteiro era muito bem escrito e a equipe trabalhava bem. Éramos uma família, com todos os prós e contras".
De todos os atores do elenco, Ramón Valdés, o Seu Madruga, que viveu seu pai na ficção, é o mais especial. O ator morreu em 1988 de câncer do pulmão. "Ele era uma pessoa maravilhosa. Tinha sete filhos, mas falava que a Chiquinha era a sua primeira, então carregava minha foto junto com a dos outros. Ele me amava como filha, e eu o amava como pai. Quando ele morreu, fui parar no hospital, fiquei dois dias internada em choque", disse, à "Veja", Maria Antonieta, que afirmou assistir ao programa diariamente para ver Don Ramon.
Mesmo com a saudade dos tempos do seriado, a atriz reconhece que a amizade entre os atores de "Chaves" não existe mais. Nos anos 1980, os atores Carlos Villagrán, o Kiko, e Ramón Valdés, o Seu Madruga, deixaram o programa após um desentendimento com Roberto Bolaños. O motivo do problema do autor da série com Villagrán era o triângulo amoroso vivo entre os dois e Florinda Meza, a intérprete de Dona Florinda, que por anos foi namorada de Villagrán. Porém, em 1977, ela o trocou por Bolaños, com quem é casada até hoje.
Maria Antonieta também se desentendeu com o intérprete de Chaves. Em 1994, após atuar no programa "Aquí Está la Chilindrina" ("Aqui está a Chiquinha", em tradução livre), ela se desentendeu com Bolaños. Ele queria o seu nome nos créditos como criador da personagem. A atriz também reclamou os direitos autorais de Chiquinha. Esta briga levou quase dez anos para ser dada como resolvida por ela. Mesmo com os problemas, Maria Antonieta afirma já ter tentado retomar o relacionamento com Roberto Bolaños. "Não temos nenhum contato. Ele não atende meus telefonemas nem meus convites. Se não quer, não posso obrigá-lo a ser meu amigo", disse ela à revista "Veja".
Para os shows no Brasil, Maria Antonieta está tendo aulas diárias de português, para que consiga se comunicar da melhor maneira com o público. "É difícil aprender português. Estou desesperada, pois está chegando o dia da turnê e ainda não aprendi de verdade", admite ela à publicação, que vai dançar "Show das Poderosas", da cantora Anitta. "O texto evolui com o tempo, mas a personagem continua sendo a mesma menina travessa e chorona de sempre", afirma.
Aos 62 anos, ela não tem planos de se aposentar. "Enquanto estiver bem fisicamente, vou continuar fazendo a Chiquinha. Ela é a minha vida. Fazer o programa Chaves foi algo mágico e único. Tenho saudade", afirma ela à revista "Veja".