A influenciadora Dayane Alcantara Couto de Andrade, conhecida como Day McCarthy, foi condenada quase 7 anos após proferir ofensas racistas contra Titi, filha mais velha de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. Segundo informações do colunista Valmir Moratelli, da revista Veja, ela recebeu uma pena de 8 anos e 9 meses de prisão em regime fechado por racismo e injúria racial.
Dayane está fora do Brasil e o mandado de prisão ainda não foi expedido pelo juiz da Primeira Vara Criminal da Justiça Federal do Rio de Janeiro. A influenciadora ainda pode recorrer, mas se a pena permanecer, a Justiça deve pedir imediata execução e extradição.
Ainda segundo informações da Veja, Dayane recebeu a maior pena da história da Justiça brasileira sobre um crime de racismo, com uma sentença equivalente a casos de estupro e homocídio.
Antes, havia um caso registrado no Brasil de uma pessoa condenada a dez anos, mas somou-se as penas, porque as ofensas foram contra várias pessoas de uma mesma família. Além do racismo contra a menor, Dayane ainda acusou Bruno de lavagem de dinheiro e Giovanna de associação ao tráfico de drogas.
No início da tarde desta sexta-feira (23), Bruno e Giovanna confirmaram a condenação da racista com um post conjunto no Instagram.
"Hoje a gente vem celebrar uma vitória contra o racismo. E sabemos que, infelizmente, esta vitória acontece por termos visibilidade e brancos e, portanto, mais ouvidos que a população negra que, desde que foi sequestrada para este país, não para de gritar e sangrar. Nunca é tarde, mas ainda é tarde", iniciou Bruno.
O ator ainda destacou as dificuldades do processo, mesmo com todos os privilégios que o casal carrega. A denúncia foi aceita apenas em 2021, quatro anos após o caso.
"Essa é a primeira vez que, em resposta ao racismo, o Brasil condena uma pessoa à prisão em regime fechado. Sim, estamos em 2024 e essa ainda é a primeira vez. Apesar de tardio, é histórico. O direito criminal diz que pouco pode ser feito pela reversão da pena, no máximo sua redução. E assim esperamos e seguiremos confiantes na justiça, pois há anos estamos lutando por entendermos que esta vitória não é nossa, mas da nossa filha, coletiva e de toda uma comunidade", publicou.
Leia o comunicado de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso na íntegra:
Hoje a gente vem celebrar uma vitória contra o racismo. E sabemos que, infelizmente, esta vitória acontece por termos visibilidade e brancos e, portanto, mais ouvidos que a população negra que, desde que foi sequestrada para este país, não para de gritar e sangrar. Nunca é tarde, mas ainda é tarde.
Quando nossa filha Chissomo tinha apenas quatro anos, em 2017, foi alvo pela primeira vez do racismo. Títi, como vocês conhecem, nem sabia que poderia ser vítima assim como ocorre com toda criança preta. O crime veio de uma mulher eugenista, que encontrou na internet o ambiente perfeito para proferir violências hediondas – aqui, às vezes o mundo parece retroceder com ataques às minorias crescendo de modo desmensurado. Demos voz aos idiotas?
Mesmo com todos os nossos privilégios, o caminho foi longo: apenas em maio de 2021 conseguimos oferecer uma denúncia. E somente na última quarta-feira, dia 21 de agosto de 2024, sete anos depois, a Justiça Federal do Rio de Janeiro proferiu uma decisão inédita condenando a autora dos crimes por injúria racial e racismo. A pena? 8 anos e 9 meses de prisão em regime fechado.
Essa á primeira vez que, em reposta ao racismo, o Brasil condena uma pessoa a prisão em regime fechado. Sim, estamos em 2024 e essa ainda é a primeira vez. Apesar de tardio, é histórico. O direito criminal diz que pouco pode ser feito pela reversão da pena, no máximo sua redução. E assim esperamos e seguiremos confiantes na justiça, pois há anos estamos lutando por entendermos que esta vitória não é nossa, mas da nossa filha, coletiva e de toda uma comunidade.
Seguimos confiantes na atuação consistente do judiciário para assegurar que crimes de racismo sejam devidamente reconhecidos e punidos – enaltecemos também a Procuradoria da República do Rio de Janeiro pela atuação firme e combativa. E somos gratos à advogada Juliana Souza e sua equipe que nunca nos deixou esmorecer.
Como pais, estamos emocionados e agradecemos: a comoção pública foi fundamental para este avanço. Não temos mais nada a declarar, mas seguiremos vigilantes porque o racismo está longe de acabar.
Bruno e Giovanna
Leia o comunicado de Juliana Souza, advogada que representou Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank:
A maior condenação por racismo e injúria racial da história brasileira.
Após anos de trabalho incansável, dedicação e estudo, hoje tive a honra de ver a justiça prevalecer. A condenação de 8 anos e 9 meses, inicialmente em regime fechado, no caso Gagliasso x Day McCarthy não é apenas uma vitória para a família Gagliasso - é uma vitória para todos nós. É a prova de que o racismo não compensa e que podemos, sim, mudar o curso da história.
Como advogada, e principalmente como uma mulher negra, que já foi uma criança preta, essa decisão carrega um simbolismo profundo. Ela me lembra que nossa luta é legítima e que cada passo que damos é crucial para garantir que nenhuma criança tenha que passar pelo que a Titi passou, ou pelo que eu passei.
Hoje, durmo um pouco mais tranquila. Mas amanhã, acordarei novamente com a mesma missão: fazer justiça. Essa vitória não é apenas minha- é de todas as advogadas e advogados pretos que estão na linha de frente, enfrentando desafios imensos, mas que seguem firmes, porque sabem que nossa luta é maior.
Que essa decisão sirva de exemplo e referência para muitas outras, em defesa da nossa dignidade, da nossa história e dos nossos direitos.
Agradeço à família Gagliasso pela confiança, e aos meus colegas Silvia Souza e Diogo Conceição, por caminharem ao meu lado nessa jornada em momentos cruciais. E minha família, as mulheres da minha vida, minha dinastia de trabalhadoras domésticas, que são minha maior inspiração. Seguimos dissonantes.