Ao mesmo tempo que é reprisada pelo SBT, a novela "Carinha de Anjo" se mantém entre os produtos mais acessados na plataforma Netflix. Intérprete de Estefânia, a Tia Perucas, Priscila Sol nota uma repercussão maior do seu trabalho na trama infantil se comparado com a exibição original (2016/2018), conta ao Purepeople.
"Talvez, pelo fato de as famílias estarem mais em casa e querendo consumir conteúdos mais voltados a eles, que possam unir as várias faixas etárias, que façam refletir, trazer consciência e um pouco mais de esperança! Estamos todos cansados de produtos pesados que não elevam a nossa energia, não é?", questiona a colega de elenco de Bia Arantes, que reviveu a torcida por Cecília e Gustavo (Carlo Porto).
E a artista afirma se identificar com a personagem-título da trama de Leonor Corrêa. "Sempre fui uma criança bastante lúdica. Cresci conversando com fadas, duendes e gnomos. Quando via essas coisas e falava para as pessoas, diziam que eu tinha a imaginação muito fértil. Tenho tanta identificação com a Dulce e a minha criança, entre o que aconteceu comigo na infância...", recorda, citando a primeira novela que tem lembrança: "Chispita", exibida pelo SBT e CNT entre as décadas de 1980 e 1990 e estrelada pela mexicana Lucero, intérprete de Tereza, mãe de Dulce em "Carinha...".
"Olha como a vida é mágica, como nossa imaginação - quando não há bloqueios, nem ninguém a reprimindo - a gente manda ao Universo e Ele devolve na pureza da criança. Aos 6 anos, quando assistia 'Chispita,' eu me via nela e acreditava naquela personagem. Depois, quando perdi meu pai, a história me ajudou, porque ela também era órfã de mãe e eu lembrava que era possível retomar a vida mesmo perdendo alguém tão especial", afirma.
A artista destaca a importância de contar a história da Dulce para o público infanto-juvenil. "É muito parecida com a minha (história), mexeu comigo, já que eu sabia da minha responsabilidade em estar ali e representar essa história para as crianças. Afinal, muitas se inspiram nas novelas ou em um dos temas abordados, que são super importantes. Foi muito emocionante para mim saber que de alguma maneira posso ter colaborado com a vida de alguém, como 'Chispita' colaborou com a minha", reforça.
E Priscila faz um pedido. "Que a gente possa plantar sementes boas na mente das crianças para que nasçam coisas ainda melhores dentro delas. Elas já nascem perfeitas, sem julgamentos. Sem o medo que criamos ao longo da vida. São esses medos, o julgamento das pessoas e a necessidade de ser aceito, de ser reconhecido, que vão fazendo com que a gente breque nossa imaginação."
A fantasia é muito importante, mas, claro, não precisa ser um adulto alienado, não é isso. A imaginação é poderosa e sabemos que 'tudo' o que plantamos, nasce.
Com 14 anos de carreira na TV, Priscila é enfática ao classificar sua personagem como um divisor de águas na vida. E faz uma reflexão a respeito do figurino excêntrico da tia de Dulce (Lorena Queiroz, atualmente com 10 anos e apaixonada por jeans), combinando o acessório que lhe dá apelido com o restante da roupa. "Acredito que as perucas trazem autenticidade à personagem, uma maneira que ela encontrou de manifestar externamente seus sentimentos", opina.
"O que acho mais interessante é como mesmo com aquela aparência meio que 'fora do padrão', ela ainda assim conseguia ser ouvida e suas ideias eram respeitadas. Durante o processo da novela fui recebendo ensinamentos muito especiais também", recorda a atriz. "Tivemos a sorte de receber cenas muito especiais, muito bem escritas. A Tia Perucas foi um divisor de águas na minha vida!", vibra Priscila, manifestando um desejo.
"Quero personagens com propósito, caso não tenha, prefiro esperar mais um pouco. Não quero ser apenas uma ótima atriz, quero fazer a diferença no mundo", pede ela, a ser vista ainda este ano no filme "Destinos Opostos",
E ao falar de novo da morte do pai, recorda a luta que travou em busca do amor-próprio e da autoaceitação. "Conforme fui evoluindo nessa questão, minhas personagens também foram, é lindo de ver! Quando a Tia Perucas chegou já me sentia bem mais confiante e reconhecendo minhas forças e aí, por meio dela, pude manifestar toda essa conquista e aprendizado", explica.
"A última personagem que interpretei foi a Helena, uma veterinária pantaneira, que me trouxe a oportunidade de experienciar coisas que, como paulistana criada na cidade, nunca pude imaginar, mas lá no fundinho sempre quis ser uma Ana Raio (risos) e veio! Já estou sentindo a energia da próxima personagem chegando, mas vou deixar para o Universo me dizer o que estou preparada para viver, mas já posso adiantar que virá mais uma mulher baixinha e bem forte por aí!", antecipa.
Mãe de Vítor, de 18 anos, busca a quebra do seu próprio padrão familiar. "Sempre procurei ser muito parceira dele e trazê-lo para mim, no sentido de que se precisasse de algo ou alguém recorresse a mim e ao pensar em compartilhar algo com alguém que essa pessoa fosse eu. Minha mãe é maravilhosa, superprotetora, mas sempre foi muito fechada para conversas, sempre teve dificuldade pra compreender como sou", admite.
"Talvez, porque a vida tenha sido muito dura com ela e essa foi a maneira que ela encontrou para me criar. Somos todas vítimas de vítimas, mas como hoje tenho essa consciência procuro fazer diferente com o Vítor. A busca pela maternidade perfeita é constante mas acredito que todas (mães) estejamos fazendo o melhor que podemos a partir de nossas experiências. Então, não devemos nos cobrar tanto", prossegue.
Acredito que se há amor, por mais que a gente 'erre na educação', entre aspas mesmo, a gente já está acertando. Acho que não mimei o Vitor, mas procurei entendê-lo como ser humano. Antes dele ser meu filho, ele é um ser humano. Sempre quis entender as vontades dele. Por mais que as vontades dele fossem diferentes das minhas, do que eu desejava para ele. Procurei sempre validar as opiniões dele, conhecê-lo de verdade e deixá-lo livre pra ser o que ele quiser ser", ensina.