Musa dos anos 80, quando foi capa da "Playboy", Lucinha Lins interpreta em "Vitória", nova novela da Record, a primeira personagem vovó de sua carreira. Aos 61 anos, a atriz já é avó de três crianças, mas na ficção isso ainda não havia acontecido. Em entrevista ao Purepeople, ela fala como lida com a chegada da maturidade, conta que já fez plásticas e admite: "Sou a rainha dos cremes". Confira o bate-papo:
Purepeople: Em 'Vitória' você interpreta a primeira vovó da sua carreira. O que achou disso?
Lucinha Lins: Estou caminhando como uma atriz que já está no pedaço há algum tempo. Sou uma jovem senhora e uma avó jovem na vida real. Isso está passando agora para a ficção e vou te contar que tem sido uma delícia.
Purepeople: Mas a Zuzu não é uma vovó à moda antiga, né?
LL: Ela e o marido formam um casal moderno! Possuem uma vida sexual ativa, têm tesão um no outro e dão beijo na boca na frente dos outros sem o menor pudor. É muito bacana fazer uma personagem que não é uma mocinha gatinha, mas atacar como uma gatona também!
Purepeople: O sexo na terceira idade ainda causa estranheza?
LL: É comum vermos nas novelas casais que passaram dos 50 anos parecendo dois irmãozinhos que moram juntos. E isso não é verdade. Um casal mais velho pode, sim, ter uma vida sexual ativa como qualquer outro. Por que ser diferente? Está casado há muito tempo e isso vai embora da vida? Ah, meu Deus! Que pobreza (risos)!
Purepeople: Você e o Claudio Tovar estão casados há 30 anos. Qual é o segredo para manter essa chama acesa?
LL: Amizade, cumplicidade, respeito, amor... São muitas coisas que envolvem uma relação. Não é só ser apaixonado. Isso é consequência de uma porção de coisas que existe. Para começar, as pessoas têm que se gostar. Com isso, já facilita bastante.
Purepeople: Muitos guardam na memória sua imagem de musa dos anos 80 e, este ano, você completou 61 anos. Como encara a maturidade?
LL: Não vou negar, os 60 anos pesaram. Eles são esquisitos, sabe? Aos 40, me achei chiquérrima. Aos 50, disse 'ok, já posso dizer que não tenho saco e idade para certas coisas'. Mas os 60 foram assustadores.
Purepeople: Por que?
LL: Primeiro tem uma tal de menopausa que já aconteceu um pouco antes disso. É uma grande mudança na vida de uma mulher. Aí depois tem uma coisa que bate: lidar com a mortalidade. Já vivi com certeza muito mais que 50% da minha vida. Depois que passa essa fase, não tem o que ser feito. Tenho 61 anos e no ano que vem farei 62.
Purepeople: As pessoas te abordam para falar sobre isso?
LL: De alguns anos pra cá, sim. Me param e dizem: 'nossa, como você está bem ainda. Você ainda é muito bonita'. Tem sempre um 'ainda'. Parece que tenho 112 anos! E tem vezes que não agrado. 'Pensei que fosse mais gorda. Pensei que fosse mais magra'. Não sei explicar isso, mas sou bonitinha... Ainda (risos)!
Purepeople: Algumas atrizes buscam retardar os efeitos do tempo porque bons papeis vão sumindo com a chegada da terceira idade. Isso é algo que te preocupa?
LL: Não posso fazer nada a respeito. Vou fazer o quê?! Retardar minha idade?! Acho complicado ficar mexendo na cara. Sou uma atriz e não gostaria de perder as rugas da idade. Mas uso cremes maravilhosos... Sou a rainha do cremes!
Purepeople: Você nunca fez plásticas?
LL: Fiz no pescoço há muitos anos, recomendada por cirurgiões. Diziam que eu era muito linda, dona de uma rosto deslumbrante, mas com pescoço de velha. Era uma pele muito diferente. Já operei também três vezes as pálpebras por causa de gordura. E, no ano passado, fiz plástica nos peitos.
Purepeople: Colocou silicone?
LL: Não, foi apenas para colocá-los no lugar. Com a idade e filhos, a lei da gravidade começou a mostrar seu poder. Estava algo realmente estranho... É pele, né?
Purepeople: Você é religiosa?
LL: Só de mim para comigo mesma. Rezo as orações que aprendi na Igreja Católica quando criança, mas não frequento nenhuma igreja. Elas têm o lado maravilhoso do encontro, mas possuem também um lado muito medíocre. Achar que a mulher saiu da costela do homem não dá! As religiões em geral ainda fazem da mulher uma coisa mais submissa.
Purepeople: E o fato da Record ser ligada a uma igreja não te incomoda?
LL: Vejo a Record como uma empresa qualquer que me contratou para fazer um trabalho. O que faço lá é exatamente o que eu faria na Globo, SBT ou Band. Não tenho o direito de questionar o lugar em que estou trabalhando. A não ser que isso atrapalhe o meu trabalho. Aí vira uma situação de eu querer continuar ou da casa me querer ou não.
Purepeople: Você nunca teve contrato longo com a Globo. Foi uma opção sua?
LL: Sempre fiz obras certas lá porque havia um lema: ou você faz teatro ou assina com a Globo. Eu jamais abdicaria do teatro. Por duas vezes, houve um papo de fazer um contrato comigo, mas eu sempre dizia para deixar do jeito que estava.
Purepeople: E o que te fez assinar com a Record?
LL: Minha primeira novela foi por obra certa, depois assinei o contrato longo. Me senti querida na emissora e, além disso, estou mais velha. Ser assalariada é maravilhoso, trouxe uma tranquilidade que nunca tive. Minha vida financeira sempre foi insegura. Estar mais velha pesou e, hoje, penso diferente.
Purepeople: Você gostaria de voltar para a Globo?
LL: Pode ser que algum dia volte a fazer coisas lá. Será um prazer, mas não fico torcendo para que isso aconteça. Não vou negar a casa onde estou trabalhando hoje. Jamais cuspi ou cuspirei no prato que comi ou que estou comendo. Isso é de uma grosseria absurda.
Purepeople: Muitas pessoas acham que os artistas estão sumidos quando trabalham na Record. Isso te chateia?
LL: Às vezes, sim. Você está fazendo um baita trabalho, sabe que é bom e encontra alguém que diz que você está sumida. Tem horas que parece que você não está fazendo nada. Está trabalhando feito uma louca e acham que você está na praia. Mas não podemos esquecer do hábito e vício de ver Globo. Aos poucos, as pessoas estão percebendo que há outros canais com a mesma qualidade. E todos merecem ter suas audiências.
(Por Anderson Dezan)