Se na novela "Malhação - Viva a Diferença" o preconceito é sentido de perto por Tina, personagem de Ana Hikari, por ser descendente de orientais e namorar um motoboy negro, papel de Juan Paiva, na vida real não é muito diferente. Em conversa com o Purepeople, a atriz conta que também já passou por episódios parecidos. "Já presenciei o racismo sofrido por meu pai, que é negro, em diversos momentos. Chegaram a abordá-lo na rua quando eu era pequena e perguntaram onde ele tinha pego a criança", lembra ela. O ator que faz par da adolescente na novela também já relatou ter sentido na pele com o mesmo problema fora da TV.
A atriz conta que quando criança não entendia direito o que acontecia quando presenciava situações constrangedoras como a relatada durante a entrevista. "Na época, eu achava que era uma brincadeira. Mas mesmo que fosse, não era legal esse tipo de atitude discriminatória", avalia. Para que pudesse passar por tudo isso de forma leve, ela conta que o assunto costumava ser abordado em casa. "Meu pai sempre falou comigo sobre esse assunto de maneira delicada e aberta para despertar em mim uma empatia e reflexão, principalmente através da arte. Ele me apresentou grupos de arte e movimento negro que me ajudaram a entender poeticamente o quão ruim era esse tipo de preconceito", explica.
A atual temporada de "Malhação" aborda, além do preconceito, outros temas polêmicos, como o alcoolismo, com o personagem MB (Vinicius Wester). Ana Hikari se diz satisfeita e aprova a abordagem com sua personagem através do relacionamento com Anderson. "Não é um simples caso de romance proibido. A proibição da mãe da Tina tem a ver com preconceito, racismo e discriminação. É uma forma de discutir o tema principal da novela: diferenças", opina a atriz, de 22 anos. "É sempre muito emocionante. Tive cenas extremamente fortes, de embate com a Mitsuko (Lina Agifu) e de racismo explícito que o Anderson sofre." No capítulo do último dia 29, o casal foi parado numa blitz e sofreram preconceito por policiais, o que gerou uma revolta da classe e uma nota de repúdio divulgada pela Polícia Militar de São Paulo.
Ana diz que seguir pela arte foi natural na sua vida. "Sempre convivi com o meio das artes por influência dos meus pais. Hoje, com meu primeiro papel na TV e como uma das protagonistas em um dos maiores produtos para jovens da emissora, é um grande prazer e tenho focado 100%. Pretendo continuar na TV e mostrar cada vez mais o meu trabalho", conta a atriz, que estudou Artes Cênicas na Universidade de São Paulo (USP) e se diz muito inspirada pelo pai a seguir na carreira. "Ele conseguiu construir a vida com muita garra. Optar pela carreira artística é uma escolha muito difícil, ainda mais com os recursos escassos que temos para cultura no nosso país, infelizmente", lamenta.
A atriz conta que já está sentindo a repercussão da personagem tanto nas ruas quanto nas redes sociais. "Já fui reconhecida diversas vezes. E acredito que seja inevitável que isso aconteça cada vez mais, porque com o cabelo rosa é muito mais fácil de encontrar", brinca Ana, que teve que mudar de visual e pintar a ponta dos cabelos de rosa para viver a Tina. No Instagram, ela já pulou de 800 para mais de 70 mil seguidores. "É muito bacana ter esse retorno do público, e sempre tento responder todas as mensagens, postar fotos novas para eles, como uma forma de retribuir todo esse carinho."
(Por Clara Mayrink)