Em sua última semana no ar, "Lado a Lado" não perde o ritmo e traz um novo drama feminino, sofrido por Laura (Marjorie Estiano) e inspirado em casos da vida real. A co-autora da trama, Cláudia Lage, falou sobre o tema no site oficial da novela: a personagem, internada indevidamente pela mãe cruel em um sanatório, encontra ajuda na figura de Judite, uma mulher absolutamente saudável e esquecida no hospício por 11 anos. A prática era comum na época em que a novela é ambientada.
Depois de discutir com Contância (Patrícia Pillar) na rua e ser atropelada, Laura acorda ao lado da mãe deitada em um leito em que pensa ser de um hospital. Só que no capítulo desta segunda-feira (11), a professora vê uma outra paciente ser trazida para o seu quarto à força e a forçam a engolir um medicamento. Após a saída dos enfermeiros, Judite cospe o comprimido e aconselha a colega a fazer a mesma coisa, pois "tomar o remédio faz os pensamentos apagarem até sumirem de vez", diz a interna, na cena.
E para quem acha que tal crueldade é apenas coisa de novela, Claudia Lage revela que se baseou em histórias reais para retratar na ficção o sofrimento de várias mulheres que sonharam com uma vida diferente da que levavam e acabaram internadas em sanatórios por contrariarem seus maridos ou por terem destaque em alguma carreira intelectual.
"Era uma prática comum no século XIX, que perdurou até meados do século XX. Na pesquisa de Luciane Reis, os prontuários dos médicos eram impressionantes. As justificativas para a internação parecem inverossímeis aos olhos de hoje. 'A paciente apresenta grave obsessão por livros', 'desprezo pela família', 'excitação sexual nervosa', 'recusa em ter filhos'. Um dado notável é que boa parte das pacientes nos sanatórios eram mulheres que haviam estudado além do estipulado para as mocinhas na época, que só aprendiam o suficiente para ler, escrever e fazer contas. Elas foram além, fizeram o curso normal ou ainda eram normalistas, dedicavam-se ou não ao magistério, mas eram mulheres com o intelectual acentuado, com interesses sociais e profissionais, que fugiam à ideia do casamento e da maternidade como o único destino possível. Não que não quisessem se casar e ter filhos, mas buscavam também a realização pessoal fora da família. Foram tantas mulheres que passaram por isso, a maioria anônimas, que os seus nomes só chegaram a nós por meio de suas tristes histórias, já que todo o impulso delas de independência foi sufocado pelos familiares, o pai ou o irmão, ou pelo marido, que tinham a autorização para interná-las mesmo contra a vontade. Quer dizer, eles tinham o poder de julgar e decidir se suas esposas, irmãs e filhas eram loucas ou não, e interná-las caso assim desejassem. Do mesmo modo, só eles, ou uma junta médica, podia tirá-las do sanatório, ou deixá-las para sempre lá, como foi o caso de muitas".
A autora ainda adianta que a ex-baronesa sequer se arrependerá do que fez: "Constância vive de acordo com os próprios princípios. Ela justifica os atos mais cruéis como um sacrifício pelo bem e pela reputação da família, e fará o mesmo com a internação da Laura. Para ela, a filha passou dos limites ao querer ser uma jornalista profissional, somando a isso a matéria que a moça vai escrever sobre a corrupção no judiciário e a decisão de depor como testemunha da Isabel. No sanatório, a mãe leoa, que, apesar da vilania, ama a filha, dará lugar à mãe cruel e devoradora, que não aceita que o filho reja o próprio destino". Mas, felizmente, depois de passar momentos tão difíceis a professora terá seu final feliz ao lado de Edgar (Thiago Fragoso), seu grande amor. Já a vilã vai acabar sozinha em um sítio da família.