O filme "Casa Gucci", com Lady Gaga e mais atores de peso no elenco, como Salma Hayek, Al Pacino, Adam Driver e Robert de Niro, tem como plano de fundo a trágica morte de Maurizio Gucci, herdeiro da maison italiana, a mando da mulher, Patrizia Reggiani, interpretada pela atriz e cantora norte-americana.
Antes de o longa-metragem, repleto de figurinos de tirar o fôlego, estrear nos cinemas, o Purepeople te conta mais detalhes do crime real que marcou a década de noventa na Itália e em todo o mundo. O roteiro da obra cinematográfica, vale lembrar, é baseada no livro "Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte", da jornalista Sara Gay Forden.
Mauricio e Patrizia se conheceram em 1970, em uma festa de debutantes da alta sociedade. Ela, no entanto, tinha uma condição financeira diferente: era filha de uma lavadeira com um industrial, o que não foi aprovado pelo pai dele, Rodolfo.
Os dois se distanciaram e nenhum familiar foi ao casamento, realizado dois anos depois, em 1972. Tio de Maurizio, Aldo foi quem fez o jovem voltar ao círculo familiar, pois viu ele como o sucessor ideal dos negócios, propondo uma mudança de Maurizio e Patrizia para Nova York, onde eles poderiam ajudar na expansão da marca em território norte-americano.
A entrada de Maurizio nos negócios da família, no entanto, fez a relação com Patrizia mudar. Se anteriormente ele se aconselhava com a mulher, a partir da década de 80, eles ficaram cada vez mais distantes. Em 1985, desistiram de manter um casamento de fachada.
Maurizio não passou o Natal com a família no ano em questão e a situação deixou a socialite extremamente incomodada, bem como as proibições impostas por ele às visitas dela às propriedades dos Gucci, como a mansão icônica em Saint Moritz, na Suíça.
O fim do casamento deixou Patrizia ainda mais próxima de outra peça-chave no crime, Pinna Auriema, sua melhor amiga. Em 1990, Maurizio tornou pública uma nova relação, com a modelo Paola Franchi. O novo relacionamento do empresário (e até então marido, pois o divórcio ainda não havia sido concluído) deixou Patrizia ainda mais inconformada.
Na mesma época, ela descobriu um tumor no cérebro e não gostou da forma como Maurizio se portou: ele enviou um buquê para ela após a cirurgia, sem comparecer ao hospital. Uma gravação enviada por ela ao empresário foi um dos primeiros indícios que ela estava disposta a se vingar.
Em um trecho da fita, Patrizia garantiu que não daria "um minuto de paz" a ele e que "o inferno" iria chegar até Maurizio. Com o intermédio de Pina, Patrizia contratou um motorista de fuga, Orazio Cicala, um matador de aluguel, Benedetto Ceraulo, e um criminoso que fez a ponte entre elas e dois, Ivano Savioni.
O assassinato aconteceu em 27 de março de 1995: ele foi morto com quatro tiros quando saia de seu escritório. Patrizia, no entanto, só foi presa dois anos mais tarde, em 1997. Isso porque, a princípio, os investigadores e policiais acreditaram que a morte teria relação dos negócios do empresário com a máfia.
A saber: essa época, ele já havia vendido sua parte na Gucci e tinha uma empresa voltada para a área de turismo e lazer.
Foi uma ligação anônima que mudou todo o curso da investigação: como Patrizia não havia cumprido a promessa de pagar a quantia prometida aos três bandidos envolvidos, Ivano acabou comentando sua insatisfação com um amigo, Gabriele Carpanese, responsável pela denúncia.
Depois de grampos telefônicos, a polícia conseguiu chegar aos cinco envolvidos. Em 1997, quando foram prender Patrizia, ela não demonstrou surpresa. "Vocês vieram por causa do meu marido, não é?", teria questionado.
O julgamento aconteceu no ano seguinte, em 1998, e teve uma intensa cobertura midiática: a "Viúva Negra" foi condenada a 29 anos; Pinna, a 25 anos; Orazio Cicala, o motorista ficou 29 anos de prisão; Benedetto Ceraulo teve a prisão perpétua decretada.
Publicado pela primeira vez em 2008, "Casa Gucci: Uma História de Glamour, Cobiça, Loucura e Morte" (Editora Seoman) foi relançado este ano. Autora da obra, a jornalista e historiadora de moda, Sara Gay Forben entrevistou mais de cem pessoas, incluindo familiares, funcionários atuais e ex-funcionários, entre indivíduos intimamente ligados ao universo Gucci e seu drama.
"Muitas pessoas dividiram comigo suas experiências nas empresas e na família Gucci. Isso tem grande valor para mim, porque essa ligação com os Gucci inevitavelmente provoca emoções profundas e impressões duradouras. Até hoje, a grife Gucci e a família que a fundou continuam a inspirar, surpreender", aponta a autora.