"Quem matou Odete Roitman na novela 'Vale Tudo'?". Essa pergunta tomou o Brasil entre o final de 1988 e o começo de 1989 após a milionária vivida por Beatriz Segall (1926-2018) ser executada por Leila (Cássia Kis). A icônica trama ganha uma nova versão em 2025 para comemorar os 60 anos de Globo e já foi escalada que irá dar vida à vilã e essa artista guarda uma forte coincidência com a atriz que interpretou a megera no original.
Só no último capítulo foi desvendada a identidade da assassina da empresária preconceituosa, e o Rio de Janeiro foi uma das cidades a praticamente parar. O trânsito na Zona Sul carioca era muito abaixo do normal para uma noite de sexta-feira, e reservas em restaurantes para a faixa das 20h às 22h recuaram em 40%.
Vale lembrar que na época, a principal novela da Globo entrava no ar por volta das 20h30. E que a moeda brasileira era trocada com frequência. Por isso, com a conversão o valor em reais seria extremamente menor: hoje, 1 cruzado não valeria nem 1 real.
Isso foi relatado pelo jornal "O Globo" no dia seguinte a exibição do capítulo final em 7 de janeiro. Mas não foi só isso. Os tradicionais "bolões" se espalharam pelo país com os mais variados palpites sobre quem matou Odete Rotiman.
Em parceria com a Globo, o caldo de galinha Maggi lançou uma promoção e sorteou 5 milhões de cruzados para quem acertasse o nome do algoz da empresária. Até o dia da exibição do capítulo final a campanha recebeu incríveis 3 milhões de cartas, sendo 300 mil na primeira semana e 800 mil no dia 6 de janeiro.
Trinta pessoas ficavam responsáveis por abrir os envelopes um a um. O ranking de suspeitos era puxado por Eugênio (24%), personagem de Sérgio Mamberti, um dos atores do elenco original já falecido, e Leila somava cerca de quatro vezes menos (6.3%). Mas não foi só isso.
O jogo do bicho também criou seu bolão aceitando apostas a partir de mil cruzados - no Rio, 40 mil pessoas já haviam participado antes da virada do ano. No dia 8, "O Dia" informou que 350 milhões de cruzados foram arrecadados com o bolão ao longo de apenas 10 dias de "campanha".
Desses, 5 milhões de cruzados envolveram apostas indicando Leila como a assassina. E cada ganhador recebeu seis vezes mais que sua aposta, pois a personagem de Cássia foi considerada uma "zebra".
Em São Paulo, o bicho deixou de aceitar apostas com o número da sepultura de Odete (1933) e outros números exibidos em "Vale Tudo". Já na capital de Santa Catarina, 12 jornalistas de um jornal local fizeram suas apostas visando um prêmio de 12 mil cruzados.
Até a Bolsa de Valores entrou na jogada e as apostas feitas por operadores chegaram a bater 50 milhões de cruzados. Por fim, na Bahia, foi confeccionada uma camiseta com a frase "eu matei Odete Roitman. E daí?" acompanhada de uma mão reproduzindo um cano de revólver. A 5 mil cruzados cada, 80 unidades tinham sido vendidas até o fim de dezembro.