Renata Silveira já enfrentava o machismo do futebol muito antes de se tornar jornalista esportiva. Nos tempos de torcedora, a atual narradora da TV Globo foi alvo de agressão verbal em um estádio. O caso aconteceu em 2010, dois anos antes de ela ser eleita Miss do município do Rio de Janeiro, e foi revelado no ano passado, em uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
"Eu estava com a minha irmã e desceram dois caras da torcida organizada e pararam na nossa frente. Eles não estavam vendo o jogo, estavam discutindo alguma coisa e bem embriagados. Primeiro, a gente ficou tentando desviar para conseguir ver o jogo. Só que não estava dando certo", relembra Renata.
Renata afirma que pediu educadamente que os homens dessem licença. Ela não apenas teve o pedido ignorado, como passou a ser xingada por um dos caras.
"E aí começou um bate-boca, um estresse. Foi uma situação bem tensa, porque eu olhava para o lado e ninguém fazia nada. O cara gritava com a gente de uma forma! Só faltou ele nos agredir fisicamente, porque agressão verbal, ele falou todas que você possa imaginar. Até que um cara da torcida desceu e retirou eles. Eu caí no choro. Tenho certeza de que, se eu fosse um homem, ele não teria falado a metade das coisas que falou", lamentou.
Renata define o ocorrido como a primeira situação de preconceito que enfrentou no universo do futebol. "Fiquei mal depois daquele dia. Acho que foi a primeira vez que o futebol tentou me excluir de uma certa forma. Ali, eu senti o machismo", pontuou.
Na mesma entrevista, Renata também relembrou o desafio de narrar a partida da Dinamarca contra a Finlândia pela Eurocopa em 2021. Na ocasião, o jogador dinamarquês Christian Eriksen sofreu uma parada cardiorrespiratória em campo.
Renata era recém-contratada do Grupo Globo quando a fatalidade aconteceu - ela tinha apenas três meses de casa. A narradora define esta transmissão como a mais difícil de sua vida, mas foi, também, um divisor de águas em sua carreira.
"Depois disso, eu recebi muitas mensagens do tipo: 'Passei a te respeitar depois desse jogo, passei a gostar do seu trabalho depois desse jogo'. É muito mais do que ter conseguido narrar aquela tragédia. É mostrar pra muita gente que duvidava que eu era capaz de estar ali, que eu posso até narrar tragédia", refletiu.
O profissionalismo de Renata em meio à situação delicada também ajudou a calar a boca de muitos críticos. "Tinha muita gente ali torcendo o nariz. Quando eu falo de muita gente, falo de sociedade, falo de outros narradores, de imprensa, de todo mundo duvidando: 'Mulher narrando, será que isso vai dar certo? A Globo nunca teve uma narradora'. E depois disseram: 'Olha só o que ela fez. O cara quase morreu em campo, ela ficou no ar, segurou a transmissão'", completou.