Os auditórios dos programas de Silvio Santos vetavam a entrada de homens, mas em 1993 e com uns 12 anos lá estava eu na plateia do extinto teatro que levava o nome do ícone da TV - hoje o local abriga um buffet. É bom dizer que o Teatro Silvio Santos abrigava não só os programas do "homem-sorriso" que nos entristeceu com sua morte no sábado (17), como aqueles de Hebe, Gugu, Flávio Cavalcanti (homenageado em seu falecimento de maneira inédita pelo próprio Silvio) ...
Bem, cresci assistindo ao SBT e era telespectador assíduo do "Programa Silvio Santos", principalmente no fim dos anos 1980, quando outro ídolo, Gugu, já dividia a maratona (maratona mesmo!) de horas e horas no ar. Em algum caderno da época, uns garranchos revelavam que a atração entrava no ar às 10h e só acabava depois das 23h.
Pequeno, cantava errado a música que chamava os jurados e o próprio Silvio no icônico "Show de Calouros", com o júri mais lendário da tevê, que reunia desde uma cantora de sucesso no passado (Aracy de Almeida) até jornalistas (Décio Piccinini) passando por figuras igualmente marcantes como Sérgio Mallandro, Pedro de Lara, e Mara. Ao invés de "mas o que vai, vai, mas o que vai vem", disparava um "mas que vem vem vem".
Pela paixão que sentia pelo SBT, um dia não lembro quando fui até o teatro localizado na Vila...Guilherme! Para quem nunca passou, fica muito perto da penitenciária do Carandiru e do edifício onde morreu Isabela Nardoni. Naquela vez, vi uma foto de Silvio e Gugu no "Troféu Imprensa" - nunca mais vi, nem na divulgação do SBT à imprensa, tampouco em revistas ou na TV.
Alguns anos se passaram e nas férias de meio de ano, em um sábado, Silvio Santos estava gravando e consegui entrar no auditório. Claro, estava com meus pais - moro no Rio de Janeiro - e o funcionário da portaria liberou minha entrada com a gravação já em andamento da "Porta da Esperança".
Fiquei lá no fundo da plateia em uma época onde para se usar a máquina fotográfica era preciso colocar um rolo de filmes. Logo, celulares que fazem fotos e vídeos era algo inimaginável. Mas a lembrança ainda está fresca na memória e agora eternizada nessas palavras.
Então, quando cheguei Silvio já havia mandado abrir as portas da esperança e conversava com um empresário que realizou o sonho do telespectador. Logo depois, chamou o comercial, parou a gravação, pegou o roteiro e de forma muito rápida autorizou a retomada, para o último bloco.
Assim que a gravação acabou, o rei da TV saiu do cenário e logo entrou de maneira igualmente ágil a equipe de cenografia. Toda aquela estrutura começou a sair, e outra a entrar, do "Roletrando" (hoje "Roda a Roda") na época diário e patrocinado pelos produtos de limpeza "Veja".
Claro que o carro zerinho zerinho (já diria Lombardi) entrou pela porta maior do teatro com livre acesso ao palco. Alguns holofotes foram substituídos e uns produtos gigantes (de papelão, creio eu) eram pendurados no teto.
Enquanto isso, as (e o) colegas de trabalho podiam lanchar - havia uma barriquinha de cachorro-quente em frente ao teatro/estúdio. Não demorou muito e a gravação do "Roletrando" após um breve ensaio com a plateia começar, e Silvio já de roupa trocada.
Lembro que televisores instalados no teto possibilitavam ver o que iria ao ar, já com as imagens escolhidas pelo diretor e não somente de uma câmera. E a visão que tive mesmo do fundo do auditório era muito boa, se podia ver tudo, até porque o palco não era tão grande assim.
Ah, e o painel onde as palavras são formadas na época tinha uma curiosidade. Sempre pensei que a produção ia para trás do painel e formava as palavras ao contrário. Não. A produção colocava uns tapumes/tapadeiras na frente do painel e ali naquele meio formavam as palavras para serem acertadas. Assim, quem estava no auditório também não tinha como ver nada.
Não tive coragem ou jeito para pedir a Roque ou Liminha para chegar até o patrão. Me arrependo. Nunca mais pisei naquele teatro de novo, porém em outras oportunidades passei na frente ou fiquei embaixo de um sol do meio-dia para ver as brincadeiras externas do "Domingo Legal". Mas isso é outra história...