O confronto entre o mundo de ostentação de Fedora (Tatá Werneck) e o temperamento explosivo de Tancinha (Mariana Ximenes) deram o tom do primeiro capítulo da novela "Haja Coração", exibido nessa terça-feira (31). Com uma dramaturgia de forte apelo popular e duas protagonistas carismáticas, apesar de antagônicas, a estreia da nova trama de Daniel Ortiz promete agradar o público como fez "Alto Astral", outra obra do autor, que terminou há um ano.
Suceder um sucesso de público e crítica como foi "Totalmente Demais" não é tarefa fácil. Além disso, a nova novela das sete já traz consigo grande expectativa por ser a releitura de "Sassaricando", outro grande sucesso da década de 80, que alavancou a carreira de Claudia Raia e deixou sua marca na teledramaturgia brasileira. Porém, em vez do peso da dupla responsabilidade, "Haja Coração" apresentou a leveza de um folhetim fundamentado na comédia, com personagens promissores e um ótimo gancho.
Por causa da ação inédita de começar numa terça-feira, a trama dividiu a estreia com "Escrava Mãe", novela da Record que ficou em segundo lugar nos tópicos mais comentados do Twitter durante a exibição do capítulo. O folhetim da TV Globo, contudo, se manteve em primeiro, um indício de que a boa audiência de sua predecessora é uma herança que pode (e deve) ser mantida a depender do desenrolar da história. Apesar de um certo didatismo para explicar os acontecimentos do passado e algumas cenas um tanto clichê como as da feira e a saída de Giovanni (Jayme Matarazzo) da prisão, o elenco e direção apontam para a confirmação dessa boa perspectiva.
Fedora e Tancinha
Conforme já dava para perceber pelas chamadas e pela participação de Fedora no último capítulo de "Totalmente Demais", Fedora é um fenômeno. A adaptação da personagem, que já era uma patricinha fútil em 87, para a figura extravagante e mimada de uma aspirante a diva-mor das redes sociais é uma bela sacada. Ela gera identificação instantânea em muita gente que sonha viver assim, ostentando sua riqueza por onde passa.
Tatá Werneck - sempre engraçada e carismática - apresenta um trabalho de interpretação quase caricatural, mas bem sustentado. Ainda que por enquanto seja quase impossível não comparar e encontrar semelhanças de trejeitos com Valdirene de "Amor à Vida" e Pandora de "I Love Paraisópolis", Fedora tem sua identidade própria e marca pessoal, sem dúvida, e pode crescer bastante nesse sentido ao longo da novela.
A Tancinha de Mariana Ximenes também disse a que veio, embora em dados momentos a delicadeza na fala da atriz transpasse o jeitão estouvado que a personagem pede. Isso é algo que pode se tornar uma nuance estabelecida dessa nova versão, ou mesmo ir desaparecendo com o passar dos capítulos. De toda forma, a invasão de Tancinha à festa de Fedora convenceu. Mariana deu uma virada interessante e baixou o barraco com convicção!
Coadjuvantes também brilharam
Sem nenhum demérito ao elenco masculino, é preciso dizer que foi um capítulo em que predominantemente as mulheres brilharam. Além das protagonistas, Grace Gianoukas, Marisa Orth e Ellen Rocche foram os destaques da estreia. Grace, com toda sua experiência de humorista e physique du role (aparência própria para o papel), é garantia de risada certa no jogo cênico com Claudia Jimenez e Tatá. Marisa é outro acerto de escalação e já está à vontade na pele da mãezona Francesca. A atriz é muito boa e está bem também nas cenas dramáticas.
Ellen Rocche surpreendeu com a ex-bbb Leonora, que disse a melhor frase da noite. A ruiva esbravejou: "Esse país não tem memória", durante o escândalo que fez por não ser mais reconhecida num restaurante, e o trocadilho com o momento político que o país vive foi uma piada pronta, muito sagaz.
Dito isso, vale lembrar que o sucesso ou fracasso de obras abertas são difíceis de prever. O jeito é acompanhar capítulo a capítulo. Para entender melhor a trama confira o nosso quem é quem com o perfil dos personagens, e fique por dentro das próximas emoções no resumo da semana.
(Por Samyta Nunes)