O remake de 'Renascer' traz à tona não somente a sensação de nostalgia, assim como o desenrolar das tramas da versão original de Benedito Ruy Barbosa. Dito isso, o folhetim das 'oito' rendeu muita audiência naquela época, mas poderia ter sido um fracasso diante das alterações pontuais que interferiram no rumo da história.
Por exemplo, Adriana Esteves ,no papel de Mariana, entrou em depressão após a novela devido à enxurrada de críticas que levou por conta de sua personagem. Complexa, misteriosa e fogosa, Mariana era a antiheroína que mexia com a cabeça de dois homens da mesma família. Mesmo assim, a direção manteve o enredo da mocinha, o que não é o caso de dois grandes personagens da novela.
Os personagens Tião Galinha e José Venâncio tiveram sua grande importância no decorrer da trama, sendo que um cultivava uma galinha, enquanto o outro se apaixonava por uma mulher intersexual, na época, denominada de hermafrodita.
O grande problema foi justamente nos bastidores. Isso porque os atores Taumaturgo Ferreira e Osmar Prado , respectivamente, Venâncio e Tião, se desentenderam com a direção por conta da identidade dos seus papeis.
No caso de Taumaturgo Ferreira, hoje defendido por Rodrigo Simas , foi acusado de pecar em atuação, tom e a construção do personagem. A solução foi matar o personagem diante de uma tocaia feita para o pai, José Inocêncio (Antônio Fagundes ). O autor Bruno Luperi já disse que o fim trágico do publicitário será mantido.
Na época, Taumaturgo Ferreira, que vinha de ótimos trabalhos na emissora, como 'Top Model', sentiu-se completamente enganado. "Eu fui cancelado. Durou seis anos. Queriam que eu fizesse uma coisa mais rural, da Bahia. Eu tinha combinado com o diretor que meu personagem (José Venâncio) não teria sotaque nem falaria "oxente" e "painho". Porque ele era um cara que tinha estudado fora, mais sofisticado, namorava uma hermafrodita. Eu não via sentido. Combinei com o diretor para não fazer. Só que se esqueceram de combinar com os russos (risos)", disse, em entrevista à coluna de Patrícia Kogut, no jornal O Globo.
Tião Galinha era um típico personagem trabalhador e sofredor, q que almejava ganhar dinheiro para sustentar a família. Em determinado momento, ele colocou na cabeça que poderia enriquecer ao cultivar um diabo da sorte. Assim, passava parte da novela com uma galinha nas mãos com a intenção de que ela chocasse o cramulhão.
Semelhante a Taumaturgo Ferreira, Osmar Prado pediu para que a morte do personagem fosse antecipada, pois não aceitava que um homem como Tião se matasse na cadeia, como mantinha o roteiro.
"Era para matar o personagem, ia voltar a fazer teatro em São Paulo. Aí eles botaram o Tião se suicidando. O Tião foi preso, foi pra cadeia, e se matou. Aí falei pro Luiz Fernando Carvalho [diretor da novela] que a cena não estava completa. Como que esse personagem, com tanta força, vai se matar por nada? Disse que queria uma bofetada na minha cara, bater em uma pessoa digna', comentou o ator para o programa Grandes Atores, do Canal Viva.
O veterano ainda reclamou após a direção exigir que ele 'baixasse' o tom de suas interpretações. "A novela que tem que subir. Não sou eu quem devo me conter. E se achar por bem que tem que tirar o personagem, não será nem o primeiro nem o último."