A novela "Uga Uga" impulsionou a audiência da Globo em 2000 na faixa das sete e agora está disponível no Globoplay trazendo a oportunidade de matar a saudade de vários atores que nos deixaram. Escrita por Carlos Lombardi, a trama conta a saga do índio loiro Tatuapu (Claudio Heinrich), neto de Nikos (Lima Duarte) e órfão de pai e mãe que tenta se adaptar na cidade grande.
Entre descamisados e uma noiva em fuga, "Uga Uga" jamais foi reprisada na TV aberta ou na fechada. Agora, 23 anos após sua estreia, alguns motivos poderiam muito bem levar a novela ao "cancelamento" nas redes sociais. O Purepeople te explica por quê, recorrendo a matérias publicadas na época.
1. De cara, "Uga Uga" mostra como Nikos Jr. (Marcos Frota) e Mag (Denise Fraga) encontram a morte durante expedição na Floresta Amazônica. Uma tribo local ataca os pesquisadores e mata a todos. Ou melhor, quase. Pois Tatuapu/Adriano é o único sobrevivente. Como armas, desde flechas de fogo a lanchas.
Passados 23 anos, o Brasil tem agora um ministério voltado para os cuidados dos povos originários. Esse massacre contra o "homem branco" não seria bem aceito. Afinal, os indígenas não possuem esse comportamento cruel.
2. Ainda nesse núcleo, Tatuapu/Adriano é loiro porque não é indígena e sim "homem branco", porém os músculos que exibiu durante a novela em nada se assemelham aos representantes do sexo masculino de uma tribo.
3. Um sotaque foi criado para a tribo de Tatuapu/Adriano e os seus. A ideia era não ligar a nenhuma tribo que exista no Brasil. Hoje, esse "neo sotaque" também renderia críticas, afinal, em que lugar do país se falou (ou se fala) tal idioma?
4. E não para por aí. Houve ainda reclamação, na época, de que os integrantes dos povos originários eram caracterizados como pessoas sem capacidade e sentimentos. E que "Uga Uga" abria caminho para os não-índios se relacionarem de forma preconceituosa com os povos indígenas, especialmente com as mulheres índias, estimulando, inclusive, a violência sexual contra elas", segundo uma comissão de novembro de 2000.
Segundo um relato à "Folha de S.Paulo", o documento chegou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília, e um vice-cacique relatou estupro de soldados contra índias ianomâmis.
5. A insatisfação se estendeu para o fato de indígenas aparecerem namorando e beijando em público. Outro argumento usado é que os representantes dos povos originários foram retratados de forma ridícula e como "trambiqueiros".
6. Em uma das tramas paralelas, Maria João (Vivianne Pasmanter) viveu um luto eterno após o sumiço de seu noivo, Bernardo Baldochi (Humberto Martins). Mecânica de carros, a jovem usava roupas masculinas e encontrava prazer apenas na leitura de livros escritos pelo sargento.
7. A ala dos "descamisados" liderados por Heinrich, Marcos Pasquim e Marcello Novaes também gerou muita controversa. Na ala feminina, Danielle Winits desfilava com roupas transparentes e chegou a exibir os seios em capítulo do final de maio.
À época, o Ministério da Justiça acionou a Globo após receber reclamações via Varas de Infância. Fato que seios, bumbuns, banhos sensuais, e dorsos nus nos dias de hoje não seriam bem aceitos por conta da erotização.
8. "Uga Uga" chegou a ter capítulos reeditados no seu primeiro mês de exibição pelo excesso de armas de fogo em suas cenas exibidas na faixa das sete. Isso ocorreu anos antes de um plebiscito questionar a população a respeito do comércio de armas. No final, o "sim" acabou vencendo.
9. Quer mais polêmica? Brigitte (Betty Lago) era uma aeromoça que maltratava os passageiros e até utilizava as viagens para fazer contrabando. O Sindicato Nacional dos Aeronautas também emitiu nota de repúdio antes da novela chegar ao seu segundo mês no ar.
10. Na trama, Baldochi, além de Maria João, conquistou outras quatro personagens embora representasse o "homem viril, machão, rude" e com "H".