Henrique Fogaça e Claudia Rodrigues são famosos que têm em comum uma luta: a desmistificação do uso da maconha em tratamentos.
Claudia precisa dos efeitos terapêuticos da erva para tratar a esclerose múltipla. No caso de Fogaça, o caso raro de epilepsia que atinge o tônus muscular de sua filha e que a fazia ter 20 convulsões por dia, tem tido resultados excepcionais com a maconha medicinal, fato motivador para a decisão de inaugurar um instituto de pesquisas de CBD em São Paulo, ainda este ano.
"Há 3 anos ela vem usando o óleo medicinal chamado CBD, que é extraído da planta Cannabis Sativa, mais conhecida como 'maconha'. E digo pra vocês que graças à planta 'sagrada', ela está cada dia melhor, com um semblante de paz, de alegria, sorrindo e sentindo os pequenos prazeres da vida, como poder se alimentar pela boca, ficando em pé com ajuda de um aparelho específico para as pernas e dia após dia, evoluindo", declarou o chef.
As melhorias experimentadas pela filha de Henrique Fogaça, inclusive, são respaldadas cientificamente. Pesquisa recente liderada pelo departamento de ciências do cérebro do Imperial College London e publicada na revista científica BMJ Paediatrics Open constatou que o uso de maconha medicinal reduz em 86% as crises de epilepsia em crianças.
Para Thainá Zanholo, empresária da indústria canábica e criadora da plataforma Nowdays, que produz conteúdo de educação sobre a planta, os claros benefícios passaram a ser vistos há pouco tempo. Por isso, a atuação de figuras públicas é fundamental para que a maconha seja tratada com seriedade nos setores político e social.
"O posicionamento de Fogaça e de outras celebridades de relevância é muito importante, pois o testemunho deles tem o poder de influenciar e formar opinião", afirma.
"Quando um chef de cozinha nacionalmente conceituado fala sobre isso, ele naturalmente leva informação para fora da bolha, para pessoas que o seguem por sua habilidade na cozinha e que nunca ouviram falar sobre, para aqueles que ainda acham que maconha é uma droga que precisa ser banida ou mesmo para o público que é bem informações, mas não discute o assunto", analisa.
Para Thainá Zanholo, a mudança de mentalidade com base nos formadores de opinião, desconstrói o imaginário popular. Segundo ela, as pessoas normalmente já têm formada, no subconsciente, a ideia de que a maconha é uma droga e não uma planta que pode beneficiar muita gente.
Além disso, por meio das celebridades, o assunto é abordado de forma mais despretensiosa, introduzindo o tema de maneira menos impositiva, o que abre espaço para o diálogo.
No Brasil o uso de canabidiol no tratamento ainda é inacessível. A recomendação médica, no geral, só vem após o insucesso de outros tratamentos. A compra é outro desafio. Os produtos são importados e, por isso, tem custo elevado.
"Quando o governo adota uma posição de permitir a compra apenas em casos específicos e burocratizar a aquisição dos medicamentos, cria uma grande desigualdade no acesso ao tratamento", observa.
"Já há iniciativas que buscam trazer o tratamento para o SUS, por exemplo, mas a cannabis ainda é colocada em caixinhas de 'aceitável' e 'inaceitável', o que não ajuda ninguém, pelo contrário, apenas dificulta que muitas pessoas tenham uma melhor qualidade de vida, em nome da ignorância e do preconceito acerca da cannabis", pontua a empresária.