A edição de 2018 promete entrar para a história de Cannes. Além dos tradicionais looks glamourosos e dos penteados com personalidade que cruzaram o tapete vermelho francês, o tom feminista ganhou destaque no festival. O júri foi presidido por uma mulher, a atriz Cate Blanchett, depois de quatro anos e pela 12ª vez nos 71 anos de evento e, desde a abertura, a questão da igualdade de gênero foi abordada em diferentes momentos.
No sábado consecutivo à abertura, aconteceu um protesto que se tornou uma das imagens mais representativas da edição deste ano. Em prol da igualdade de gênero, 82 mulheres da indústria cinematográfica, entre atrizes, como Salma Hayek e Kristen Stewart, produtoras e cineastas subiram as escadarias do Palácio dos Festivais. O número de participantes fazia referência à quantidade de filmes assinados por mulheres que foram indicados à premiação em todos os 71 anos do renomado evento na Riviera Francesa. A título de comparação, são mais de 1.600 trabalhos dirigidos por homens que já passaram pelo festival. Em determinado momento, pararam no meio das escadas, simbolizando que, ainda nos dias atuais, as mulheres enfrentam dificuldades no mercado. No último dia de festival, a italiana Asia Argento destacou em seu discurso o assédio sofrido por ela em edição anterior. "Em 1997, aqui mesmo em Cannes, fui estuprada pelo produtor Harvey Weinstein. "Eu tinha 21 anos. Este festival era o lugar onde ele caçava. Eu quero fazer uma previsão: Weinstein nunca mais será bem-vindo aqui de novo. Ele viverá em desgraça, afastado da comunidade do cinema, que um dia o abraçou e encobriu seus crimes", afirmou.
Outro destaque em Cannes nesta edição foi um aumento de artistas negros, apesar da ainda evidente desigualdade racial no mesmo. Quatro dias depois do protesto pela maior presença feminina no festival, 16 atrizes negras subiram juntas as escadas no mesmo local e questionaram a dificuldade de atrizes negras conseguirem papeis de destaque por conta do preconceito. Com looks Balmain, cujo estilista - Olivier Rousteing - é negro e tem valorizado a maior representatividade no mundo fashion. O ato integrou o lançamento do livro Noire N'est Pas Mon Metier (Negra não é minha profissão, em tradução livre), de Aissa Maiga, no qual artistas relatam o racismo nos bastidores do cinema. Em outro dia do festival, as protagonistas do filme queniano "Rafiki", Sheila Munyiva e Samantha Mugatsia, aliaram estilo e representatividade ao red carpet no dia 09 de maio. Dirigido por uma mulher, Wanuri Kahiu, o longa é o primeiro do Quênia indicado ao festival francês, mas foi banido no país de origem, por ter temática LGBTQ.
Em 2018, o cinema brasileiro também marcou presença no festival: com o longa "O Grande Circo Místico", de Cacá Diegues, Mariana Ximenes e Bruna Linzmeyer cruzaram a Croisette e apresentaram o novo trabalho ao grande público. O documentário "Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos", da brasileira Renée Nader Messora e do português João Salaviza também agitou o red carpet: premiada na mostra "Um Certo Olhar" do festival e gravada gravada no Tocantins, com indígenas Krahô, a produção luso-brasileira se destacou por conta da crítica de seus produtores e elenco ao genocídio dos nativos brasileiros e às demarcações em terras indígenas. Outro highlight nacional em Cannes foi a passagem de Bruna Marquezine. Famosa desde a infância em produções nacionais, a atriz fez sua estreia na 71ª edição do evento e, com looks cheios de estilo, roubou a cena até na imprensa internacional. Confira esses e mais momentos na galeria acima.
(Por Marilise Gomes)