A suposta rejeição da FIFA aos nomes de Camila Pitanga e Lázaro Ramos para apresentar o sorteio de grupos da Copa do Mundo 2014 foi parar na Justiça. O Ministério Público do Estado do São Paulo instaurou uma investigação criminal para apurar se houve motivação racista na substituição dos atores negros pela dupla Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert.
Responsável pelo procedimento, o promotor Christiano Jorge Santos informa que, para esclarecer a situação, questionários foram encaminhados ao Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo; à empresa GEO Eventos, responsável pela parte artística do sorteio de grupos; e à Rede Globo, que teria sugerido os nomes de Camila e Lázaro.
"Preciso saber o que levou a essa substituição. A partir das respostas, vou estabelecer a ordem das pessoas que pretendo ouvir. A convocação dos quatro atores envolvidos dependerá do que for falado. Fernanda, Rodrigo, Lázaro e Camila serão chamados, se for necessário, a título de esclarecimento", informa o promotor, em conversa com Purepeople nesta terça-feira (03).
Mais seriedade
Segundo Christiano Jorge Santos, a questão deve ser tratada com seriedade. Em coletiva de imprensa realizada na segunda-feira (02) na Costa do Sauípe (BA), que receberá o evento, o diretor da Geo Eventos, Luiz Gleiser, rebateu as acusações de racismo. "Isso é bobagem, desculpe", avaliou.
Essa resposta é criticada pelo promotor. "Não consigo compreender essa posição. Existe o branqueamento da sociedade brasileira. As pessoas tendem a negar a existência de negros no nosso país. É uma situação estranha para o mundo. Quando se mostra um mundo de faz de conta, onde só existem brancos no Brasil, isso é negativo para a imagem do país no exterior", avalia.
Vale lembrar que recentemente a revista "Forbes", dos Estados Unidos, classificou o veto à escolha de Camila e Lázaro como "infeliz" e lembrou o esforço da FIFA para combater o racismo no futebol.
Casa Grande & Senzala
O sorteio de grupos da Copa do Mundo 2014 será realizado na próxima sexta-feira (06), com transmissão para 193 países, com estimativa de 500 milhões de espectadores. Alcione, Margareth Menezes, Olodum e Alexandre Pires serão algumas das atrações musicais do evento.
"Afirmaram que não são racistas por causa dessas escolhas. Para mim, isso só reafirma o tom racista nessa questão. O branco fica na casa grande e, o negro, na senzala. A apresentação ficou para o apresentador de olho azul. O batuque ficou com o negro", pontua o promotor.
Procurada por Purepeople, Camila Pitanga não quis se pronunciar sobre o assunto. "Já dei uma entrevista sobre isso e não quero mais falar sobre o tema", limitou-se a dizer. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", ela mostrou-se despreocupada com a polêmica. "Sinceramente, acho que a especulação é muito maior do que a situação. Até porque, não recebi convite oficial", disse.
Em um evento de moda, realizado em São Paulo, Fernanda Lima falou sobre o tema. "Venho trabalhando com a FIFA já há alguns anos. E fui chamada para esse trabalho há mais de seis meses", contou. "Fui convocada e, como tal, aceitei e vou fazer o meu trabalho. O que eu tenho a ver com isso? Só porque eu sou branquinha?", questionou.
(Por Anderson Dezan)