O novo "Linha Direta" estreia nesta quinta-feira (04) e já no primeiro episódio, relembra os detalhes de um crime que o Brasil acompanhou de perto e atônito: o Caso Eloá.
No dia 13 de outubro de 2008, um homem inconformado com o fim de uma relação, Lindemberg Alves Fernandes, invadiu o apartamento da ex-namorada, Eloá Cristina Pimentel.
Na ocasião, Eloá, de apenas 15 anos, estudava com mais três amigos em sua casa. Lindemberg liberou os dois meninos e fez a ex e a sua melhor amiga, Nayara Rodrigues da Silva, de refém.
O caso teve um final trágico. No dia 17 de outubro, policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo explodiram a porta do apartamento, invadiram a residência e iniciaram uma luta corporal contra o sequestrador. Nesse momento, ele atira contra as duas reféns.
Nayara levou um tiro no rosto e Eloá foi acertada na virilha e na cabeça. A amiga teve alta hospital na quarta-feira seguinte ao crime, já Eloá teve a morte cerebral decretada por volta das 23h30 do dia 18 de outubro.
O crime contra Eloá é um caso que coloca luz nos erros de diversos âmbitos da sociedade, da ação policial à cobertura da imprensa. A espetacularização midiática do caso faz parecer como uma situação excepcional, mas trata-se de feminicídio em uma das suas mais comuns formas.
Segundo dados do relatório "Elas Vivem: dados que não se calam", realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, em 2022, ocorreu, ao menos, um caso de feminicídio por dia no Brasil. 75% deles foram realizados por companheiros ou ex-companheiros das vítimas.
A seguir, o Purepeople te relembra detalhes pouco mencionados sobre o Caso Eloá, um crime que não pode ser esquecido para não mais se repetir.
O crime teve início no começo da tarde de segunda-feira (13/10/08), tendo fim no final da tarde da sexta-feira (17/10/08). Foram 4 dias e 4 horas de terror, totalizando 100 horas de sequestro com cárcere privado.
Com isso, o Caso Eloá se tornou o mais longo sequestro com cárcere privado da história de São Paulo.
Sônia Abrão, apresentadora do "A Tarde é Sua", é sempre uma das primeiras figuras no imaginário público quando o assunto é a cobertura do Caso Eloá. A jornalista conversou ao vivo com o sequestrador e com a vítima por telefone. Com isso, a atração foi acusada de atrapalhar o andamento do caso, visto que ela mantinha a linha telefônica ocupada, atrasando as negociações, e ainda, em bom português, "dava palco" para o criminoso.
Além disso, Sônia estava acompanhada de especialistas que disparavam comentários um tanto quanto controversos ao vivo. "Eu sou muito otimista, né? Eu espero que isso termine em pizza, em um casamento futuro entre ele e a namorada apaixonada dele. Ele tá passando por uma fase momentânea, ele tem motivação de viver. Um rapaz jovem, quando se apaixona, muitas vezes ele se desequilibra, mas isso vai terminar realmente em final feliz, graças a Deus, tenho plena certeza e convicção disso", disse um advogado que estava no palco da atração durante a cobertura.
No entanto, Sônia não foi a única apresentadora a conversar ao vivo com o sequestrador. Lindemberg também entrou em contato com o programa "Hoje Em Dia", da Record TV, e teria prometido à atração que se entregaria a qualquer momento. O matinal permaneceu ao vivo, com imagens da sacada do prédio de Eloá, à espera de que isso acontecesse, mas, claro, não aconteceu. Ana Hickmann chegou a pedir que o sequestrador fosse até à janela para acenar como um sinal de que tudo estava tudo bem.
O jornalista Reinaldo Gottino, do telejornal "SP Record", também conversou com o sequestrador no telefone na época. Em 2019, ele defendeu a ação da imprensa. "Quem culpa a mídia pelo desfecho trágico do caso Eloá não sabe o que está falando. A polícia invadiu o apartamento pela porta da frente. Depois que o criminoso armado ficou várias vezes na janela como alvo fácil. Pensa um pouco!", disse ele.
Pouco mais de três anos depois do crime, Nayara foi testemunha de acusação no julgamento de Lindemberg e revelou detalhes, até então, inéditos dos momentos de terror que elas passaram sob a mira do criminoso.
Nayara conta que, quando retornou ao cativeiro como os policiais instruíram, encontrou Eloá com os braços bastante feridos. Ela disse que havia apanhado a noite inteira do sequestrador.
Naquele ponto, a vítima não tinha mais esperança de continuar viva. "Ela sabia que ia morrer", disse Nayara no depoimento. A jovem revelou, também, que Eloá tinha momentos de histeria, onde só queria que aquilo tudo acabasse. "Ela pedia para ele acabar logo com aquilo, falava que se ia matá-la, para matá-la logo", completou a amiga.
Os policiais também tiveram suas ações bastante questionadas durante o Caso Eloá. Entre elas, as que mais renderam críticas foi o fato de Nayara, que já havia sido liberta, ter sido enviada de volta para o cativeiro para intermediar as negociações, e a invasão inesperada ao apartamento, que resultou nos disparos fatais.
Na época, a Polícia Militar admitiu que teve a chance de matar Lindemberg com um disparo feito por um atirador de elite. Em entrevista, o coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar, citou o histórico do rapaz - e possíveis críticas da imprensa - como fatores determinantes para não atirar no sequestrador.
"Nós poderíamos ter matado, ter dado o tiro, mas é um garoto de 22 anos de idade, sem antecedentes criminais e com uma crise amorosa. Se nós tivéssemos atingido o Lindemberg, fatalmente os senhores [jornalistas] estariam questionando o GATE sobre por que não negociaram mais", disse o comandante, em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo.