O Carnaval é sinônimo de desfiles na Avenida, diversão nos blocos de rua, mas não pode ser desculpa para discriminição ou preconceito "disfarçados" de fantasia. A cada ano, se torna mais urgente o debate sobre produções controversas - como enfermeiras, pessoas indígenas e LGBTQIA+, bem como a prática de blackface.
Especialista em ética, diversidade e inclusão, Deives Rezende Filho, destaca que a questão ultrapassa a barreira do bom-humor. "Quantas vezes você já viu memes que comparam pessoas brancas com pessoas negras como forma de humor? Não basta não ser racista, você deve ser antirracista", indica.
A seguir, listamos algumas produções controversas e para abolir de uma vez por todas de seu acervo de fantasias.
A prática racista do blackface é de longa data: ela teria surgido em 1830, como um fruto da segregação racial, uma vez que, por anos, pessoas pretas foram proibidas de trabalhar no mundo das artes. Dessa forma, no teatro, cinema e televisão, personagens negros eram interpretados por atores brancos.
Outra representação muito popular por um período que reproduz essa lógica racista é a de nega maluca, por atrelar o estereótipo de raivosa e escandalosa às mulheres negras.
"O racismo recreativo é uma das ferramentas do racismo estrutural, sempre esteve presente em todas as facetas da nossa sociedade, seja por meio de piadas cotidianas, programas de televisão, filmes, séries e outros. O humor racista é uma estratégia para manter as estruturas raciais de privilégio branco ao reproduzir sátiras que perpetuam violências contra a população negra. As piadas expressam diversos estereótipos negativos da população negra, fomentando a ideia de que as mesmas não podem ter respeito social", diz.
A profissão de enfermeira é outra que, por vezes, aparece sexualizada em fantasias de Carnaval. Bruna Marquezine já apostou nessa fantasia e se desculpou pelo equívoco no passado, depois de ser alertada pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo.
"Como artista e consequentemente pessoa pública, tenho total conhecimento sobre meu alcance e poder de influência. No entanto, convido os órgãos competentes a uma reflexão profunda, e não pessoal, sobre como a indústria pornográfica, o machismo estrutural e a cultura do estupro são o verdadeiro cerne da sexualização e erotização das mulheres em qualquer uma das profissões", escreveu.
Os povos indígenas também são constantemente e equivocadamente replicados no Carnaval. Um caso envolvendo o mundo dos famosos que foi o da atriz Alessandra Negrini em 2020. Ela curtiu o Carnaval em casa na pandemia e postou nas redes sociais uma foto vestida de indígena.
A época, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil emitiu uma nota em defesa da atriz, dizendo que ela sempre "colocou seu corpo e sua voz a respeito da causa". Entretanto, é sempre importante repensar: você tem lugar de fala para usar acessórios e roupas que tenham relação com os povos indígenas?
Você sabia que o Brasil é o país com maior número de assassinatos da população LGBTQIAP+ em todo o mundo? Dados de 2021 da Aliança Nacional LGBTI+ com o Grupo Gay da Bahia (GGB) apontam que uma morte acontece a cada 29 horas e pessoas trans são o maior número de vítimas. Por isso, não é indicado se vestir do gênero oposto por mera brincadeira.
Peças infláveis e que fazem alusão a corpos gordos também precisam ficar de fora da lista. Afinal, o respeito pelo corpo alheio deve estar acima de qualquer Carnaval. Você iria gostar de ver alguma característica sua ridicularizada? Então é só não fazer o mesmo com o outro. Gordofobia não é piada!
A religião alheia também é um tema sensível: caso você não seja praticante ou adepto de determinada fé, fique atento para não usar roupas no Carnaval que acabem faltando com respeito com as crenças alheias.